No exato momento em que esse texto é escrito, boa parte dos brasileiros está com uma grande preocupação: o Big Brother Brasil, reality show realizado e transmitido pela Rede Globo. Mais uma vez entra em ação uma grande arma para tornar a sociedade mais dócil e mais manipulável, uma arma entre muitas outras, porém de grande impacto.
Primeiramente ilude muitas pessoas ao supor que seleciona pessoas comuns, ou seja, que qualquer um pode desfrutar de vida boa na "casa" e ainda por cima se tornar famoso. Depois coloca em cena projetos de artistas fracassados, que seguem roteiro pré-elaborado em um teatro que dura 24 horas por dia, e esses atores terão comportamentos e falas que estarão na boca do povo em questão se segundos (o fenômeno do Agenda Setting). Dessa forma, molda o estilo de família e até mesmo o de sociedade que se deve seguir. As coisas mais banais, fúteis, chulas e de mau gosto são vistas, e isso perigosamente passa a ser considerado normal.
Ou seja, além de fazer as pessoas acreditarem no sonho impossível de mudar de vida de uma hora para outra ("quem sabe um dia eu entro naquela casa", pensam), dita modas e comportamentos que o capitalismo espera, isso incluindo o sotaque, a cultura, os gestos, as roupas, os móveis da casa, os nomes de pessoas, e principalmente os costumes. O BBB determina nos lares onde penetra o fim total de qualquer tipo de cultura popular ou erudita que exista e coloca em seu lugar uma suja cultura massiva. As famílias tendem a se tornar ainda mais desestruturadas e serem taxadas de algo sem importância, especialmente para os jovens. Não há família naquela casa. A felicidade é vendida nessas doses herméticas todos os dias na rede Globo. Quem tem poder aquisitivo assina para assistir o grande teatro 24 horas por dia. O evento passa a fazer parte da vida das pessoas, e muitas delas até esquecem das suas vidas. Tem ainda aqueles que mandam caríssimas mensagens de texto, acreditando que podem mudar o resultado do "grande jogo".
A grande explicação para a existência desse tipo de imbecilização pode ser refletida após a leitura de "1984", de George Orwell. Aliás, é dele o termo Grande Irmão - Big Brother. Em sua obra, o Grande Irmão é o grande líder de uma das três superpotências que existe no planeta: a Oceania. Winston trabalhava para o Partido interno desse governo que mantinha o poder da população por meio da guerra contínua, da escassez de alimentos e outros. Esse governo podia mudar até os registros históricos se quisesse. As "teletelas" (espécie de TV misturada com câmera, pela qual se divulgavam os boletins e músicas do governo e pelas quais o governo observava os passos dos cidadãos) estavam por toda a parte, e nem mesmo um pensamento errado era permitido. Esse governo era extremamente eficiente em controlar as mentes, de forma a perpetuar o poder. A miséria era mantida a fim de o povo não ter acesso ao conforto, pois se assim o fizesse também teria mais condições de pensar intelectualmente, e poderiam questionar o poder.
Hoje, em lugar de guerras, a sociedade domestica os cidadãos por meio da televisão, por meio de novelas, filmes, noticiários e do Grande Irmão - o Big Brother. A "casa" é vigiada 24 horas por dia, assim como a Oceania de George Orwell. No entanto, é na sua casa que eles se focam, é a sua família que eles querem atingir. {continua).
Eu quero a continuação!! E, assim que terminar de ler o livro perfeito de Carlos Ruiz Zafón (O jogo do anjo), vou pegar esse "1984" que você tanto fala!! Pelo que entendi, é uma realidade disfarçada de ficção, correto? Pois, vivemos justamente isso, esse "controle sistemático" onde, embora pensem que são livres, os cidadãos são obrigados a pisar apenas na linha...
ResponderExcluirQuanto ao BBB, você disse tudo... Pessoas belas, jovens e fracassadas... Comuns? Sim, mas não como pensamos... Escolhidinhos a dedo para o teatro nacional, sem cérebro, cultura ou qualquer ingrediente que valha a pena...
Mais um excelente texto, sr Chico!!
Eba!Ganhei um comentário e uma sugestão de leitura!!Mas teu livro tá na frente..heheh
ResponderExcluir1984 foi escrito como uma ficção na época (1948). Aliás, a intuição do autor era inverter os dois últimos algarismos e imaginar uma sociedade futurística. É uma ficacção bastante exagerada, mas muitas coisas estão realmente ocorrendo na prática, e o mais importante é a essência do livro: mostrar que não somos livres!
Valeu pela leitura e pelo elogio...a série "Imbecilização da Sociedade" continua...
bjoo
Cara,gostei muito do texto. Nesse 'período' de Big Brother é bom saber que ainda existe pessoas com bom senso e que não assistem essa porcaria de programa, porque quando olho em volta parece que sou o único! Esperando a segunda parte, e já seguindo no twitter :)
ResponderExcluirMuito obrigado, Flávio!! E por meio da postagem eu já sei que não estou sozinho também! E haverá a segunda parte, anuncio sempre as novas postagens via Twitter!
ResponderExcluirAbraço
Se quer dicas de leitura, tenho uma lista imensa!! Mas, assim que puder, leia carlos Ruiz Zafón! É literatura de qualidade, que te remete direto para as ruas de Barcelona e te faz pensar que ainda existem livros que valem a pena ser lidos!! ^^
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