terça-feira, 27 de setembro de 2016

Por que não discutir política na internet?

Admito: sou uma pessoa que gosta de política. Gosto de acompanhar as movimentações, as ações, as polêmicas e, em especial, o período eleitoral. Procuro conteúdo sobre os candidatos, acompanho debates, reflito comigo mesmo, converso e debato com pessoas próximas e estou sempre bem informado sobre boa parte do que acontece no Brasil, no Rio Grande do Sul e em Caxias do Sul.

Na internet meu comportamento é diferente. Me detenho a ler as postagens sobre os defensores de candidaturas diferentes, quando não dos próprios candidatos. E, infelizmente, tenho o péssimo hábito de ler comentários. Há muitas, infindáveis guerras entre pessoas desconhecidas, trocas de ofensas, tentativas variadas de humilhar o outro e fazer a própria ideia se sobressair. Mesmo quando se trata de algum candidato que acompanho (que desejo que seja eleito), não raro eu paro de ler e fico me sentindo mal, com peso na consciência, com raiva, com sentimentos pesados que em nada se aproximam da paz que eu tanto venero. 

Sim, é normal ouvir nessas horas afirmações como "quem não discute política é apolitizado", "é massa de manobra dos políticos" e muitos outros ataques. Mas há uma linha tênue entre não se preocupar com política e não discutir política. Sou da segunda opção. Também não considero saudável o simples ódio por política. Procuro pesquisar, refletir e formar ideias com bases sólidas e voláteis. Sou capaz de mudar de ideia e encontrar pontos em comum com quem pensa diferente. 

Mas não gosto de expor meus pontos de vista na internet. Não considero saudável atacar alguém pelo que essa pessoa pensa, tampouco considero justo ser atacado. A internet (especialmente o Facebook) virou praticamente um palco de guerra. Há muitos perfis falsos, há muita gente desonesta, muita informação propositadamente enganosa, muito fanatismo e poucos gestos amorosos, o que me faz ter repulsa desse tipo de debate. 

Gosto mesmo (e não abro mão) de uma boa conversa, olho no olho, em que conversamos sobre política e seguimos nossa vida normalmente. Nesse caso é possível discutir com elegância, com inteligência e sem corroer o próprio íntimo. Se outras pessoas gostam de "treta", admiro-as, pois não sou assim. Todo o tipo de confronto me faz mal. Mas o diálogo é sempre maravilhoso, sempre aproxima e enriquece. Discutir política não deveria ser o centro da vida de ninguém, e sim apenas uma parte. Independente dos sistemas políticos (e mesmo econômicos), seguiremos nossas vidas. 

Já fui um militante virtual no que diz respeito à política. Tenho minhas posições políticas bem definidas. Sou apoiador de partidos, políticos e ideais de centro-esquerda. Gostaria de ver governos social-democráticos, parecidos com o estilo de Vargas (mas com democracia). Não considero possível apagar da face da Terra o capitalismo e todos os empresários, tampouco vejo com bons olhos o governo voltado somente para o capital. Um governo inteligente sabe que o beneficiamento dos mais necessitados traz benefícios também para quem tem mais. O contrário nem sempre é verdadeiro, mas deveria ser. Considero possível haver um ponto de equilíbrio que beneficie a grande maioria.

Em anos anteriores eu fazia questão de manter isso bem claro em minhas redes sociais e passava o dia postando conteúdos a respeito, numa constante batalha com outras pessoas com pensamentos contrários. Hoje vejo que nada ganhei além de contrariedades ainda mais firmes e fortes. Não ganhei nada além de reclamações e ofensas (inclusive de quem tinha o mesmo pensamento político). Por fim, ficava tanto tempo envolvido com o assunto que percebi que estava a caminho do fanatismo. Estava transformando a política em uma paixão doentia, o que já aconteceu comigo no que diz respeito ao futebol. Me corroía por dentro sempre que era contrariado, ficava revoltado ou triste ao perceber maldades no mundo e injustiças políticas. Considerava absurdo que alguém pensasse diferente do que eu pensava. Assim, precisei "abandonar" tanto o futebol quando a política para ter uma perspectiva melhor de vida e ser um ser humano melhor, mais crítico e ao mesmo tempo mais leve.

Se estou curado? Certamente não. Ainda assisto as tretas da internet, até coço o dedo pra postar ou comentar algo, mas imediatamente apago. Mantenho minhas posições, bem como a decisão de não me manifestar virtualmente. E continuo não dispensando o bom e velho debate produtivo que acontece pessoalmente (ainda que esteja tão raro fazer isso). Sigo com o mesmo gosto, mas já sei hoje que não é a política que vai mudar o mundo. O que muda o mundo são as nossas atitudes. Já não espero mais que haja algum governante "Messias" que vá salvar a humanidade. Creio que esse poder está em nossas mãos, por meio das pequenas atitudes que podemos praticar dia após dia. Acredito no amor e tento praticá-lo todos os dias, sem perder a esperança de que chegará um dia em que perceberemos que somos todos irmãos e que decidir sobre o QUE é melhor vale muito mais a pena do que decidir QUEM é melhor. 

PS: Mas que foi golpe, foi, hein?

Um comentário:

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