PENSADORES AMADORES
quarta-feira, 15 de maio de 2019
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Por que nos desesperamos?
Este post foi criado em resposta a um comentário de um leitor a respeito de uma publicação antiga, que fala sobre desespero (Para acessar o texto, clique aqui).
Ao ler o comentário e relembrar o que escrevi no passado, comecei a pensar sobre o que nos leva a esse tipo de desespero que experimentamos.
Na época em que escrevi esse texto, em 2011, eu não tinha a mesma percepção que
tenho agora. Acredito hoje em dia é possível apontar um grande vilão: o excesso de COBRANÇAS, AUTO-COBRANÇAS E AUTO-PUNIÇÕES.
Você já parou para pensar que desde
nosso tempo de escola somos "forçados" a fazer tudo certo? Até nossas
provas e nosso método de avaliação nos dividia entre o certo e o errado. Sempre
fomos condicionados a seguir padrões e crescemos acreditando que precisávamos
ser perfeitos e que o mundo precisa ser perfeito também. Então, resumimos nossa
vida em lutar pela perfeição constante. Buscamos sempre sermos ótimos alunos,
excelentes profissionais e bons pais de família, dentro daquilo que a sociedade
espera de nós.
Levamos muitos tombos por que a vida
nunca segue nosso script. Os planos não dão certo, as pessoas atrapalham,
nossas emoções e fraquezas nos fazem sucumbir e os noticiários só propagam
tragédias. Nos deixamos levar tanto por esse desejo desenfreado de alcançar a
perfeição que esquecemos que somos meros seres humanos. Somos IMPERFEITOS por
natureza. O mundo também é caótico por natureza e sem esse caos a vida não
teria sentido algum, sequer existiria. Foi do caos que o planeta surgiu e no
caos ele permanece.
Aliás, se você parar para analisar,
suas conquistas da vida surgiram do caos. Foi na bagunça, no imprevisível, no
inimaginável. Algumas conquistas são obra de planejamento, mas a Vida sempre dá
a última palavra em tudo o que fizemos.
Embora sejamos humanos e
imperfeitos, chegamos num ponto da vida em que passamos a pensar que somos
especiais, somos diferentes e temos capacidades acima da média. Talvez até
tenhamos motivos para isso, mas sabe qual é a consequência disso? SOLIDÃO,
ESTRESSE, DEPRESSÃO E DESESPERO. No fundo, tudo o que sofremos vem de um
sentimento de querer levar tudo nas nossas costas. Acreditamos firmemente que
somos responsáveis pelas mudanças (no outro e em nós mesmos) e que somos
OBRIGADOS a atingir a perfeição em tudo o que fizermos para não sermos
humilhados. Dessa forma, nós mesmos nos humilhamos quando
"fracassamos" e nós mesmos nos punimos. Quem está do lado de fora
pode até perceber alguma coisa, mas sabe que as coisas funcionam assim.
Já tive diversos
momentos de profundo desespero. Vivi uma forte derrocada profissional,
surgiu a diabetes tipo I (doença crônica), comecei a falhar em meus estudos,
tive que me afastar de pessoas que eu considerava muito, dentre muitos outros.
Tenho um histórico de problemas familiares muito complicados e mesmo hoje, com
26 anos, percebo que ainda tenho muitas limitações.
Entretanto, o desespero já não me
visita mais há tempos. Como? Simples: aceito que o mundo não é perfeito, que as
pessoas não são perfeitas, que EU não sou perfeito e não sou uma pessoa com
capacidades superiores. Sou diferente e posso fazer a diferença, mas não posso
carregar um fardo maior do que a minha capacidade. Precisei desenvolver algo
chamado HUMILDADE. Não é que eu fosse uma pessoa arrogante ou prepotente
antigamente, mas pensava comigo que tinha muitas capacidades superiores e que
OS OUTROS não tinham, de modo que eu NÃO PODIA PASSAR VERGONHA diante de
ninguém nem deveria me humilhar para pedir socorro.
Dessa forma, hoje eu não escondo
mais meus defeitos nem minhas limitações.Exponho todas elas, afinal sou um ser
humano como qualquer outro. A humildade, entretanto, tem me feito crescer e me
destacar em muitas áreas hoje em dia, muito mais do que antes. Não carrego mais
fardos e angústias, aguento no osso a humilhação de abrir o coração. Mas já sei
que isso não faz mal algum. A regra que aplico para mim é simples: descarregar
e não acumular. Também sei que é no caos que a felicidade acontece. É no abraço
fora de hora, é no banho de chuva, é no bolo que assei e deu errado, é na
pessoa que conheci por acaso, é no caminho errado que peguei para o trabalho, é
no negócio que não foi pra frente agora e que me fez ver outras
possibilidades...tudo é caos, mas precisamos saber que a vida flui ao seu modo,
as coisas são exatamente como são e é assim mesmo que tem que ser. O que nos
resta sempre é exaltar nossas qualidades e usufruir delas, mas também desfrutar
dos "defeitos", pois superá-los nos faz mais fortes.
Aliás, a vida é isso mesmo.
Derrocadas, sofrimento, lágrimas, suor e alguns momentos felizes e vitoriosos.
Se você perceber que sua vida está assim, siga em frente, pois virão grandes
aprendizados e conquistas.
A perfeição talvez nunca chegue, mas independente do resultado, sempre
será positivo. Continue com sua vontade de mudar, transformar, fazer a diferença,
mas não carregue mais peso do que necessário. Sobretudo, se desfaça da
necessidade de estar sempre certo e de ter o controle de tudo. É maravilhoso
você fazer algo sabendo que pode dar errado e mesmo assim não se importar com
isso. Afinal, o que é o erro senão um degrau para nossas vitórias.
Siga em frente e acredite na força
maior de nosso Universo que controla todas as coisas.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
A vaidade - e como ela nos move
Vaidade é uma palavra que contém dois significados curiosos.
Por um lado, ela exprime o desejo que temos de atrair a admiração de outras pessoas. E não se trata de sermos admirados somente pela beleza física, mas também pelos bens materiais que temos, pelos lugares em que vivemos, titulação acadêmica, dentre inúmeros outros.
Por outro lado, vaidade também é considerada a característica daquilo que é vazio, vão, ilusório. Coincidência? De jeito nenhum.
A vaidade é uma de nossas maiores jaulas. É um problema moral, social, econômico e até mesmo ambiental. Se fôssemos analisar exatamente o que é essencial na vida e o que fazemos apenas por vaidade, provavelmente constataríamos que mais de 90% do nosso tempo precioso é investido para buscar ou manter uma imagem melhorada daquilo que realmente somos. Ou seja, lutamos quase o tempo todo para sustentar uma ILUSÃO em torno de nós. Afinal, todos nós temos carência de admiração.
Este texto foi criado por pura vaidade. Ele não é essencial para ninguém, e embora possa levar algo interessante para a vida de muitas pessoas, o objetivo principal dele é atrair algum tipo de admiração alheia (ainda que o autor não admita).
Precisamos de vestimentas para cobrir e proteger o corpo, mas compramos muito mais do que necessitamos por pura vaidade. Precisamos de alimentos, mas saímos para comer fora em lugares lotados com comida de má qualidade e com baixos valores nutricionais por que somos vaidosos. Temos o instinto de procriar, mas procuramos pessoas com boa aparência para namorar, ou adotamos comportamentos que nos façam ser admirados como "pegadores" ou "pegáveis", tudo por pura vaidade. Nossa vaidade nos impele a fazer parte de diversos grupos segmentados que defendem determinadas ideias, para que sejamos vistos pelos outros e reconhecidos. Dentre esses grupos há os políticos, os religiosos, as reuniões de trabalho e de família, entre outros. Corremos loucamente atrás de titulações acadêmicas para que esses ilusórios títulos atestem que somos pessoas admiráveis. Fazemos academia, praticamos esporte e fazemos dieta, tudo por pura vaidade. Todos nós, que temos alguma rede social, somos vaidosos, independente do tipo de conteúdo que se posta. A vaidade nos motiva ao consumismo, pois carros, casas, eletrônicos e viagens luxuosas para lugares distantes preenchem o vazio em que nosso espírito se encontra.
Ser reconhecido e admirado por algumas pessoas por aquilo que queremos parecer ser. Infelizmente, essa é a realidade que a maioria de nós construiu em torno de si. Não posso ser hipócrita ao ponto de querer dar algum tipo de lição de moral e recomendar que todos abandonem suas vaidades. Afinal, elas podem servir para o bem. Talvez se não fosse a vaidade não teriam existido grandes artistas, cientistas, engenheiros, médicos e uma série de outros profissionais. O mundo não teria tantas maldades, mas também seria um lugar desconfortável. Eis a ambiguidade da vaidade: talvez, se não fosse por ela, não levantaríamos da cama. Não haveria motivos para trabalhar tantas horas e/ou estudar tanto. Não haveriam dívidas, nem desejos de consumo. Ninguém tomaria nada de ninguém, não haveria tanta disputa ideológica nem tantas brigas sem sentido. Afinal, sempre queremos estar certos em qualquer tipo de discussão, e estar certo é pura vaidade.
Tenho tentado lutar contra esse mal em minha vida. Fui escravo da vaidade por muito tempo. Vaidade de estar rodeado de pessoas, embora tão poucas fossem de fato pessoas que eu queria por perto. Vaidade de tirar boas notas e ser estudioso, sendo que a verdadeira professora é a vida e nenhum dos meus certificados me garante algum tipo de superioridade diante de alguém. Vaidade de ser popular, que não leva a lugar nenhum. Vaidade de ser admirado a todo o custo, de tal modo que eu praticamente me prostituía para ser valorizado por alguém (e quão alto foi o custo por essas atitudes!). Vaidade de viajar para lugares distantes e tirar belas fotos, mas se sentir vazio e amargurado.
Hoje em dia procuro valorizar o que não tinha valor: a família, os bons amigos, o namoro, as atividades físicas e intelectuais, viagens e confortos que tenho, tudo isso sem a necessidade de mostrar que disponho de tudo isso (mas as vezes a gente mostra sim). Mantenho a maior parte de minhas atividades, sonhos e planos praticamente em segredo. Evito discussões e exposições desnecessárias e não costumo debater posições ideológicas na internet. Fujo de qualquer situação que possa causar embate com outra pessoa. E, sempre que necessário, esvazio a mim mesmo, me diminuo, me humilho e assumo responsabilidades. Permito e aceito minhas fraquezas e não procuro esconder mais nada de mim mesmo. Procuro não viver em torno daquele 'eu' que quis construir para que os outros vissem, mas vivo em torno do 'eu' que sou. E, confesso, vivo nesse momento um maravilhoso caso de amor comigo mesmo. É muito difícil que algo me cause a angústia e a ansiedade que eu sentia antes, pois as necessidades se tornaram bem menores e mais leves. Vivo muito mais tranquilo, mas a vaidade ainda mora dentro de mim. Pretendo lutar por toda a vida para que ela não seja a minha razão de existir, procurando canalizá-la de modo que me motive a fazer coisas boas nesta vida.
Se eu pudesse dar um único conselho sobre esse assunto, eu diria o seguinte: seja humilde. Humilhe-se. Mas isso é assunto para o próximo post...
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Por que não discutir política na internet?
Admito: sou uma pessoa que gosta de política. Gosto de acompanhar as movimentações, as ações, as polêmicas e, em especial, o período eleitoral. Procuro conteúdo sobre os candidatos, acompanho debates, reflito comigo mesmo, converso e debato com pessoas próximas e estou sempre bem informado sobre boa parte do que acontece no Brasil, no Rio Grande do Sul e em Caxias do Sul.
Na internet meu comportamento é diferente. Me detenho a ler as postagens sobre os defensores de candidaturas diferentes, quando não dos próprios candidatos. E, infelizmente, tenho o péssimo hábito de ler comentários. Há muitas, infindáveis guerras entre pessoas desconhecidas, trocas de ofensas, tentativas variadas de humilhar o outro e fazer a própria ideia se sobressair. Mesmo quando se trata de algum candidato que acompanho (que desejo que seja eleito), não raro eu paro de ler e fico me sentindo mal, com peso na consciência, com raiva, com sentimentos pesados que em nada se aproximam da paz que eu tanto venero.
Sim, é normal ouvir nessas horas afirmações como "quem não discute política é apolitizado", "é massa de manobra dos políticos" e muitos outros ataques. Mas há uma linha tênue entre não se preocupar com política e não discutir política. Sou da segunda opção. Também não considero saudável o simples ódio por política. Procuro pesquisar, refletir e formar ideias com bases sólidas e voláteis. Sou capaz de mudar de ideia e encontrar pontos em comum com quem pensa diferente.
Mas não gosto de expor meus pontos de vista na internet. Não considero saudável atacar alguém pelo que essa pessoa pensa, tampouco considero justo ser atacado. A internet (especialmente o Facebook) virou praticamente um palco de guerra. Há muitos perfis falsos, há muita gente desonesta, muita informação propositadamente enganosa, muito fanatismo e poucos gestos amorosos, o que me faz ter repulsa desse tipo de debate.
Gosto mesmo (e não abro mão) de uma boa conversa, olho no olho, em que conversamos sobre política e seguimos nossa vida normalmente. Nesse caso é possível discutir com elegância, com inteligência e sem corroer o próprio íntimo. Se outras pessoas gostam de "treta", admiro-as, pois não sou assim. Todo o tipo de confronto me faz mal. Mas o diálogo é sempre maravilhoso, sempre aproxima e enriquece. Discutir política não deveria ser o centro da vida de ninguém, e sim apenas uma parte. Independente dos sistemas políticos (e mesmo econômicos), seguiremos nossas vidas.
Já fui um militante virtual no que diz respeito à política. Tenho minhas posições políticas bem definidas. Sou apoiador de partidos, políticos e ideais de centro-esquerda. Gostaria de ver governos social-democráticos, parecidos com o estilo de Vargas (mas com democracia). Não considero possível apagar da face da Terra o capitalismo e todos os empresários, tampouco vejo com bons olhos o governo voltado somente para o capital. Um governo inteligente sabe que o beneficiamento dos mais necessitados traz benefícios também para quem tem mais. O contrário nem sempre é verdadeiro, mas deveria ser. Considero possível haver um ponto de equilíbrio que beneficie a grande maioria.
Em anos anteriores eu fazia questão de manter isso bem claro em minhas redes sociais e passava o dia postando conteúdos a respeito, numa constante batalha com outras pessoas com pensamentos contrários. Hoje vejo que nada ganhei além de contrariedades ainda mais firmes e fortes. Não ganhei nada além de reclamações e ofensas (inclusive de quem tinha o mesmo pensamento político). Por fim, ficava tanto tempo envolvido com o assunto que percebi que estava a caminho do fanatismo. Estava transformando a política em uma paixão doentia, o que já aconteceu comigo no que diz respeito ao futebol. Me corroía por dentro sempre que era contrariado, ficava revoltado ou triste ao perceber maldades no mundo e injustiças políticas. Considerava absurdo que alguém pensasse diferente do que eu pensava. Assim, precisei "abandonar" tanto o futebol quando a política para ter uma perspectiva melhor de vida e ser um ser humano melhor, mais crítico e ao mesmo tempo mais leve.
Se estou curado? Certamente não. Ainda assisto as tretas da internet, até coço o dedo pra postar ou comentar algo, mas imediatamente apago. Mantenho minhas posições, bem como a decisão de não me manifestar virtualmente. E continuo não dispensando o bom e velho debate produtivo que acontece pessoalmente (ainda que esteja tão raro fazer isso). Sigo com o mesmo gosto, mas já sei hoje que não é a política que vai mudar o mundo. O que muda o mundo são as nossas atitudes. Já não espero mais que haja algum governante "Messias" que vá salvar a humanidade. Creio que esse poder está em nossas mãos, por meio das pequenas atitudes que podemos praticar dia após dia. Acredito no amor e tento praticá-lo todos os dias, sem perder a esperança de que chegará um dia em que perceberemos que somos todos irmãos e que decidir sobre o QUE é melhor vale muito mais a pena do que decidir QUEM é melhor.
PS: Mas que foi golpe, foi, hein?
terça-feira, 20 de setembro de 2016
Ser morno é uma merda
Infelizmente, há certos aprendizados na vida que demoramos a ter. Um dos que estou tentando aprender (ainda na marra) é o de que não podemos ser mornos nessa vida. Ou somos quentes, ou totalmente frios. Ou nos entregamos, ou não investimos. Ou tomamos partido, ou não tomamos. Ou somos A ou somos B. Se A ou B não nos representam, então devemos ser C. Temos o direito de estarmos totalmente perdidos, mas admitir isso também é um posicionamento.
Ruim mesmo é quando a pessoa fica em cima do muro sempre. Quando ela não quer tomar decisões. Quando ela não confronta pessoas, apenas concorda com todo mundo. Não toma posicionamento sobre coisa alguma. Vai sempre na direção do vento e muda de opinião sempre que quer agradar a si mesmo. Não enfrenta desafios (nem grandes nem pequenos), pois é enormemente covarde. Quando não move um centímetro sequer para alcançar novos rumos, pois tem medo de errar ou passar vergonha. Ser criticado por alguém é algo impensável para uma pessoa morna.
Outra característica marcante do morno é acreditar que todo mundo está equivocado, menos ele. A posição morna aparenta ser sempre a mais sábia. A covardia de assumir posições e responsabilidade faz o morno fugir de desafios. Quando a vida traz provas e dificuldades, o morno se encolhe, reduz ainda mais seu campo de visão a respeito do mundo e começa a procurar culpados para que tal situação aconteça. E, pior, a pessoa morna não enfrenta desafios. Enfrentá-los significa tomar posicionamentos, decidir o que fazer, é derrotar algo. Um morno detesta pensar em derrotados, especialmente quando pensa que ele mesmo pode estar sempre equivocado.
Assim, um sujeito como esse está sempre angustiado, ansioso, nervoso, depressivo e se sentindo uma bosta. Claro, sua consciência já não aguenta mais viver tamanha passividade, tanta indecisão, tanto meio-termo. As dificuldades são vistas exclusivamente como castigos da vida, dos quais o sujeito morno usa como argumentos para se vitimizar. O orgulho é tão grande em uma pessoa morna que ela nunca se permite estar em evidência, evoluir, tomar partido, enfrentar o que não considera correto. Afinal, ter posicionamento e senso crítico exige um preço que a pessoa morna não está disposta a pagar. Mal sabem os mornos que isso não agrada ninguém e faz um mal danado a si mesmo. É uma ilusão acreditar na possibilidade de agradar a todos.
Mudar esse comportamento é um grande desafio. E pessoas mornas odeiam desafios. Eis o segredo: ir direto para a luta. Nada mais gratificante do que escolher objetivos para a vida, ter noção dos desafios que esses objetivos representam e mesmo assim enfrentá-los com determinação, embora não sem esforço, sem sofrimento, sem lágrimas... tudo aquilo que conquistamos com esforço e determinação é verdadeiro. Ao tentarmos viver uma vida morna, resta-nos o infinito vazio. Que saibamos o que queremos ser, que amigos e relacionamentos queremos ter, que posição social e financeira queremos, qual bandeira queremos carregar e, principalmente, que lutar não implica necessariamente em derrotados, mas sempre conta com vitoriosos.
Caso você não seja uma pessoa morna, mas precise conviver com algumas delas, adquira o hábito de desafiá-las. Mostre que não há vantagem alguma em ficar em cima do muro. Elogie-a inclusive se ela ficar contra você. Mas faça um morno sair do muro e encarar a vida. Mostre pra ele que há uma vida cheia de cor e de conquistas para quem decide lutar pelo que quer. Não se aproveite dela nem a discrimine. Desafie-a e você conquistará a sua confiança, ainda que tardia. Não aceite o meio-termo em sua vida. Pode doer, mas vale a pena.
terça-feira, 19 de julho de 2016
Uma vida em torno de expectativas alheias
Provavelmente, alguns dos leitores irão se identificar com a realidade apresentada neste texto. Outros, talvez, não compreendam. Pretendo falar a respeito de um problema que provavelmente ainda não foi batizado, mas que diz respeito ao fato de "orbitarmos" em torno de outras pessoas (especialmente as que nos maltratam)em lugar de viver nossa própria vida.
Esse problema geralmente começa ainda na infância, fase em que somos mais indefesos e carentes. Temos necessidade de carinho, cuidados e proteção, mas nem sempre nos sentimos acolhidos. Nossos pais ou responsáveis nos trataram com uma certa grosseria e dureza. Não podemos fugir das regras preestabelecidas para não corrermos o risco de ver a ira dessas pessoas que amamos. Ao mesmo tempo, sempre foi muito fácil vê-los irritados conosco.
Mas havia também raros momentos nos quais essas mesmas pessoas nos tratavam com algum tipo de carinho, resposta positiva ou gesto gentil, nos fazendo se sentir orgulhosos, nas nuvens. Uma sensação que a gente quer muito que se repita. Mas não se repete tão cedo.
Assim, passamos nossa vida toda orbitando em torno de nossos pais, pois eles garantem tudo o que precisamos, embora nossa autoestima fique bastante comprometida pela presença constante da instabilidade sentimental dos pais. Fazemos de tudo para agradá-los de algum modo, sendo esse um dos principais sentidos de nossa tenra vida. Mesmo assim, nem sempre funciona. Quase nunca, na verdade.
Essas crianças devem, com o passar do tempo, tornarem-se adultas. Mas, infelizmente, a criança continua lá, dentro do corpo do adulto. Se antes buscávamos agradar de algum modo nossos pais e seguir tudo aquilo que nos recomendavam, em algum momento nos sentimos perdidos diante da realidade de decidir nossa própria vida. Nem sempre conseguimos. E, infelizmente, nos aproximamos de situações e pessoas que nos propiciem a mesma realidade que tínhamos quando crianças: autoritarismo, comportamento rude e pouco carinhoso. Assim, parece que conseguimos confortar nossa alma.
Ao mesmo tempo, não conseguimos sair dessa triste realidade. Trabalhamos em empresas que nos exploram e não nos valorizam, de modo que damos nosso suor sem nunca sermos reconhecidos por isso. Nos aproximamos de amizades e relacionamentos tóxicos, nos quais nosso principal desejo é fazer o possível para agradar o amigo, sem sequer saber qual é nossa própria vontade (ou em detrimento dela). Procuramos nos divertir onde os outros acham melhor, moldamos nossa vida conforme padrões que os outros seguem, tomamos escolhas e rumos que outras pessoas já tomaram e, inconscientemente, tentamos ser vistos e agradar a todos que nos rodeiam.
Constatar essa realidade é simplesmente terrível. Afinal, repentinamente deixamos esse comportamento, na tentativa de viver conforme nossas próprias vontades. Mas, afinal, quais são elas? Percebe-se que foram tantos anos vivendo na órbita dos outros que, sem
isso, existe apenas um grande vazio. Não existem sonhos, não existe
personalidade, não há nada. Somos obrigados a criar uma nova vida a
partir do nada. E como iremos criar essa vida? Quais são, realmente,
nossas vontades?
Outra barreira se concentra no fato de que todas essas pessoas que nos rodeiam, acostumadas a serem bajuladas, provavelmente se revoltarão contra nós, não acharão justo, farão joguinhos e chantagens para que voltemos a rastejar por elas. Sobram pouquíssimas pessoas que realmente conseguem entender nosso processo de decisão.
Creio que, passado todo esse doloroso processo, é necessário deixar o coração quieto quando ele desejar se calar e dar voz a ele quando ele deseja falar. Geralmente ele tem resposta pra tudo. Também se faz necessário afastar-se temporariamente de boa parte das pessoas com quem convivemos, a fim de não contaminarmos todo esse processo com ideias alheias que podem invadir nosso interior. Em alguns casos, precisamos nos afastar em definitivo de pessoas que se aproveitaram de nosso problema para tirar proveito próprio (por mais que tenha feito isso de forma inconsciente). É preciso esvaziar a vida de fato para depois preenchê-la com todas as loucuras que o coração manteve escondido, mas que nunca investimos.
O mais importante de tudo é considerar aquele velho clichê: precisamos amar a nós mesmos, sem culpa. Nada é mais importante do que seguirmos nossos próprios sonhos. Ninguém tem o direito de nos impedir. Quem nos ama de verdade aceitará essa nova realidade e quem não nos ama sairá de nossas vidas. Somente assim deixaremos de ser vítimas e de conviver com tanta frustração e passaremos a escrever e dirigir com nossas próprias mãos o roteiro da vida.
AH, e esqueça aquela famosa frase do Pequeno Príncipe. Você não é responsável por aquilo que cativa coisa nenhuma. Você é eternamente responsável pelas expectativas que levantou sobre outra pessoa. Apenas isso.
terça-feira, 31 de maio de 2016
Não se entregue pela metade
Vivemos com medo
Medo de machucar e de ser machucado
De frustrar e de se frustrar
De criar expectativas e se decepcionar
De amar e não ser correspondido
De tentar e não conseguir
De lutar em vão
De viver sem razão
Medo de andar cansado
Medo de morrer de tédio
Medo de se estressar
Medo do vazio
Medo da ansiedade
Medo da depressão
Medo do desespero
Medo da desesperança
Medo de passar vergonha
Medo de não ser notado
Medo da derrota
Medo da vitória
Medo da mudança
Medo da monotonia
Medo da luz
Medo das trevas
Medo da cegueira
Medo do que os olhos veem
Medo de voar
Medo de ficar no chão
Medo de ficar sem dinheiro
Medo de ter dinheiro e não ser feliz
Medo de Deus
Medo do mundo
Medo do céu
Medo do inferno
Medo dos pais
Medo dos filhos
Medo do frio
Medo do calor
Medo do cão
Medo do gato
Medo de namorar
Medo de levar um fora
Medo da admiração
Medo da repressão
Medo da indiferença
Medo da fome
Medo da obesidade
Medo de sair
Medo de ficar em casa
Medo da admiração
Medo da repressão
Medo da indiferença
Medo da fome
Medo da obesidade
Medo de sair
Medo de ficar em casa
Seja lá o que fizermos (ou deixarmos de fazer) em nossas vidas, sentiremos medo.
Se o medo é inevitável, arriscar é a opção mais óbvia e sábia.
Por que não arriscamos? Por que não caímos de cabeça naquilo em que acreditamos?
Sempre que não nos entregamos e não apostamos todas as nossas fichas, nos preparamos para o pior. Garantimos uma reserva para a iminente derrota. Evitamos uma ferida muito grande ou um fracasso terrível. Mas deixamos também de viver inúmeras (e maravilhosas) possibilidades. Quando é que aprenderemos a acreditar mais no sucesso do que no insucesso?
Até quando iremos nos poupar em nossos sonhos e ideais? Até quando vivermos na retaguarda, preferindo o conforto e não o confronto? Até quando declararemos a nós mesmos que não queremos mais nos machucar e deixaremos de investir no que queremos? Até quando vamos nos iludir acreditando que é possível fugir da dor e do medo?
A bem da verdade, maior dor que se frustrar, que ser derrotado ou se machucar é ficar na caverna escura e confortável da sua existência, sem sair para fora a fim de ver a luz.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
O instinto da guerra - e como (tentar) fugir dele
O Brasil vive um momento histórico e controverso. O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff dividiu o país e criou um clima de insegurança, incertezas e, acima de tudo, ÓDIO. Há ódio de todos os lados, num momento em que estamos divididos entre aqueles que são contra e os que são a favor. Cada uma das pessoas que defende seu lado está entrincheirada em suas ideias e está pronta para a guerra. É comum ambos os lados verem corrupção no outro. Verem idiotice e burrice no outro. Verem cegueira um no outro. E esse ódio todo cega ambos os lados. Já vejo há tempos esse clima de guerra, onde não há tolerância nem compreensão, há muita gente querendo ter a razão e querendo esfregar na cara do outro que está certa. E assim chega-se a torcer pela desgraça, a perder o bom senso.
Esse post não serve para discutir qual dos lados está certo. Serve para questionar a divisão e, em especial, carrega uma simples e ao mesmo tempo complexa pergunta: precisamos mesmo estar divididos e competindo uns com os outros?
Já citei em diversos outros posts por aqui: não aprecio a intolerância, nem o desrespeito ou a exclusão. Acredito no amor, no bem estar geral e em um mundo utópico onde todos possam ser respeitados em suas diferenças sem serem julgados. E não consigo aceitar esse nosso espírito de guerra, embora aparentemente ele esteja intimamente ligado à nossa natureza.
A guerra faz parte da nossa história. Basta abrirmos um livro qualquer de História e percebermos que a guerra é o fator de transformações sociais. Um dos exemplos de registros históricos de guerra vem da Bíblia. Há diversos relatos dos tempos que antecederam a vinda de Jesus e também registros de acontecimentos posteriores à Sua morte. Eram tempos de guerra constante. Povos e tribos guerreavam umas contra as outras e os mais fortes possuíam todas as cidades, todas as tendas, todas as mulheres do povo vencido e faziam desse seu servo eterno. Era necessário tomar cuidado para não ser surpreendido por alguma tropa. Ao mesmo tempo, sempre se buscou conquistar novos terrenos. Desde aquele tempo o ser humano tem ânsia pelo poder. E a guerra até então é a forma mais conveniente de buscá-lo, numa estratégia muito primitiva na qual a sobrevivência é um privilégio destinado aos mais fortes.
As guerras acontecem mundo afora até hoje. Elas não envolvem mais apenas armas, bombas e espadas. Hoje em dia vivemos uma enorme guerra ideológica. Ainda temos o pensamento de nossos ancestrais e acreditamos que pessoas com pensamento diferente devem ser reduzidas ao pó. Sentimos a necessidade de sermos superiores, de impor derrotas, de castigar e torturar, de fazer o outro ser nosso servo. Somos incapazes de compreender, ouvir, somar ideias e conviver juntos apesar das diferenças. Para quase todos nós, só o enfrentamento faz a diferença. Não é à toa que tanto se fala em luta hoje em dia. E não acredito em progresso da humanidade enquanto não deixarmos de lado esse instinto tão primitivo.
Hoje estamos sendo levados a competir uns contra os outros novamente, mas no campo das ideologias políticas. Percebo pessoas se afastando umas das outras, se desaforando e se agredindo por conta de suas posições políticas. E isso nos distancia ainda mais de um ideal de mundo melhor. Afinal, sempre que houver algum tipo de divisão e enquanto houver luta, sempre vai haver alguém derrotado (isso quando não são os dois lados derrotados). Sempre que houver alguém vitorioso, haverá alguém derrotado e insatisfeito, que fará de tudo para reverter a situação. Sempre que alguém se torna opressor, haverá oprimidos. E essa mesma disputa constante está na essência do sistema. Afinal, o capitalismo se sustenta no desejo das pessoas de serem superiores e diferenciadas das demais. Quando nos posicionamos radicalmente (de um lado ou de outro), estamos a apoiar a forma como as coisas acontecem e perpetuar a estratégia de guerra.
Tenho meu posicionamento político bem definido e confesso ter meu peito tomado de ódio em diversas manifestações contrárias, em notícias e difamações publicadas. Ainda assim, procuro lutar contra esse ódio e transformá-lo em outro sentimento não tão prejudicial. Afinal, eu acredito no AMOR. Sim, pode parecer papo furado falar em amor quando o assunto é política. Mas se realmente amássemos o próximo, nunca julgaríamos alguém como melhor ou pior do que ninguém por suas diferenças. Nunca veríamos o outro como corrupto. Não tentaríamos tirar vantagem de situações vulneráveis e nem veríamos outras pessoas fazerem isso. Não colocaríamos o dinheiro como o principal critério de felicidade e não desejaríamos ter poder e sermos notados o tempo todo. O amor permite tolerar, ouvir o próximo, filtrar informações, entender comportamentos, localizar pontos em comum e a criação de objetivos que atendam a todas as diferenças.
Discordando um pouquinho de Marx, creio que o sistema vai quebrar não por luta de classes, mas com o fim das lutas, com o fim das guerras e com a união em torno de objetivos comuns a todos. Creio que viveremos um novo sistema se o amor e a ética forem nossos principais valores.
A revolução do amor pode acontecer agora mesmo. Basta que cada um de nós ao menos tente compreender o outro sem que o próprio ego machuque e tente prevalecer. Devemos tentar não ter razão o tempo todo. E devemos substituir o ódio pela tolerância e pelo entendimento e buscar no meio de tantas disputas o conforto e a paz do lugar comum. Que nossos egos não prevaleçam diante do desejo maior, quase utópico e inatingível de bem estar geral e justiça para todos.
domingo, 8 de maio de 2016
Oito dramas de um esquisitão
Considero como ESQUISITÃO ou ESQUISITONA aquela pessoa que não consegue se encaixar nos padrões sociais vigentes. São poucos os lugares nos quais os esquisitões se sentem à vontade e são poucas as pessoas que se sentem à vontade com eles também.
Desde muito cedo eu me sinto assim. Já nos primeiros dias de escola parecia sempre estar em um mundo que não era meu. E, desde então, venho buscando um lugar para chamar de meu nesse mundo (e não, não está sendo fácil).
Cito a seguir as principais características, dramas e alegrias de um ESQUISITÃO. Tudo com o objetivo de sermos melhor compreendidos (por nós mesmos, é claro).
Obs: o teto está em primeira pessoa do plural e em terceira pessoa do singular (por que não?):
1) O esquisitão não é compreendido em sua própria casa
Pois bem, desde cedo passamos dificuldades diante de nossos pais e irmãos. Ao contrário do senso comum, que afirma que a fruta não cai longe do pé, o esquisitão não se assemelha em seu jeito de ser nem ao seu pai nem à sua mãe. Não os considera totalmente como referências para sua vida. Critica desde novinho a forma como é tratado. Consegue ver os diversos aspectos que poderiam ser melhorados em sua própria família. Não suporta mediocridades, foge dos conflitos e detesta seguir ordens. Em diversos momentos, sente-se sufocado em sua própria casa. Quando oprimido, não raro entra em depressão. Seus pais e seus irmãos não o entendem. Pior, eles o enxergam e o julgam com base neles mesmos. Por mais que um esquisitão tenha muitas qualidades (geralmente são muito inteligentes), acaba por se sentir sempre inferiorizado em seu próprio lar, como se fosse alguém com sérios problemas. Sim, pensar de mais é um sério problema para quem não é assim (acredite, outras pessoas tem a capacidade de NÃO PENSAR o tempo todo!!!);
2) As escolas podem ser um grande problema, mas também um grande refúgio
Ao chegar na escola, os esquisitinhos irão se deparar com uma nova realidade. E terão grandes dificuldades de se adaptar a ela. Por mais que tentem, não conseguem ser iguais aos coleguinhas de classe. Em geral, sofrem algum tipo de discriminação, especialmente se não há na família uma base sólida para que os esquisitinhos se sintam mais seguros. No entanto, professores costumam protegê-los. Afinal, ser professor nos tempos atuais exige muita inteligência e resiliência. Professores costumam até mesmo se corresponder com seus alunos esquisitos, vêem a si mesmos quando crianças. Com isso, surge a esperança de, no futuro, sermos adultos "normais" e aceitos pelos outros.
O melhor momento de um aluno esquisitão, tanto na infância quanto na adolescência, é quando encontra outros esquisitões. Aí sim, parece que finalmente consegue "se encontrar na vida".
3) Adolescência: a pior fase da vida
Contrariando aquela visão romântica de que a adolescência é a melhor fase da vida, o esquisitão sente já nessa fase o mundo cair sobre seus ombros. Os esquisitos que conheço (inclusive eu mesmo) aparentam nessa época serem idosos, porém com corpo jovem. Ainda não há liberdade para viver muitas experiências, não se pode tomar decisões totalmente por conta, e isso pode ser um verdadeiro inferno. Ser oprimido como criança é algo traumático para um esquisitão. Além disso, costumamos ter poucos amigos nessa fase (apesar de bons) e raramente começamos a namorar. Por influências alheias (e naquela velha tentativa de ser "que nem os outros"), alguns até tentam ficar com alguém, mas desde cedo querem algo mais sério e querem alguém que os aceite. Como nem todos entendem um esquisito, acabam se ferindo, alguns a ponto de demorarem muito tempo para se abrir para o amor (ou até mesmo nunca mais se abrirem). Geralmente é nessa época que acontecem as piores brigas com a família. Muitos de nós saem de casa.
4) Ensino Superior: um grande alívio
É na faculdade que nós, esquisitos, nos soltamos mais. Afinal, creio ser esse um dos espaços mais democráticos hoje em dia, e dependendo o curso escolhido, os esquisitões formam maioria. Então se torna possível fazer amigos, conversar sobre todo tipo de assunto, compartilhar experiências e visões, entre tantos outros. Porém, a faculdade nos aborrece sempre que se percebe nela o que há fora dela: disputas de poder, disputas de ego, colegas que parecem não ter cérebro, regras quantitativas que te obrigam a atingir metas, quando tudo o que você busca é viver uma experiência que impulsione todo o resto da sua vida.
5) Esquisitões são perdidos quanto à religiosidade
É preciso aqui diferenciar RELIGIOSIDADE de ESPIRITUALIDADE. Compreendo uma religião como um caminho, uma estratégia (ou um conjunto de experiências) escolhida livremente por um cidadão para que ele possa lidar com a sua fé. Por fé, entende-se a capacidade de crer naquilo que não vemos.
A espiritualidade vai mais além. E é nesta que o esquisitão foca. Os esquisitos tem sede de espiritualidade, mas não conseguem encontrar com facilidade uma religião que lhes permita buscá-la. Entendo a espiritualidade (ainda que de forma bem rasa) como o cuidado com nosso íntimo, a conexão do nosso íntimo com as forças e energias universais, a reflexão, o amadurecimento de ideais. Por ser mais amplo, esse conceito não está necessariamente ligado a uma religião. E nem sempre as religiões disponíveis permitem que os esquisitos busquem sua espiritualidade. Rituais raramente nos contentam, pois tudo para nós tem que ter algum sentido. Temos muita vontade de entender nosso próprio coração, os anseios de nossa própria alma, de buscar paz e conforto espiritual. Mas regras religiosas nos oprimem, nos sufocam e nos distanciam ainda mais da espiritualidade que tanto queremos.
Os esquisitos não conseguem apenas ouvir o que se fala em um culto religioso, seja ele do tipo que for. Ele sempre acaba pensando muito além, enxerga contradições, fica em dúvida. Por ficar tão perdido, acaba por ser julgado por outros religiosos. Não raro, muitos se tornam agnósticos ou ateus. Outros, como eu, dão a sorte de encontrar algum refúgio e se firmam nele, visto que tem surgido cada vez mais opções para nós, sedentos de espiritualidade. Mesmo nas religiões existem oásis onde é possível ter um contato muito profundo com nosso íntimo e com nosso Deus.
Ainda assim, nada funciona melhor com nós do que o silêncio de um quarto escuro e fechado. É nele que destruímos nossos monstros, lutamos com nossos demônios, choramos e sorrimos, conversamos longamente conosco mesmos e conseguimos, aí sim, encher nosso espírito de paz e graça.
6) Esquisitões tem dificuldade em formar família
A família em que o esquisitão vive pode ser um referencial ruim. Dependendo da experiência, o esquisitão tende a viver solitário. Pode mudar de cidade, de estado ou de país, viajar o mundo, conhecer lugares e pessoas, pois não há limites para um esquisitão.
O pré-requisito para a formação de uma família é encontrarmos nosso par. E isso pode ser muito difícil, conforme comentado antes. Há uma grande dificuldade em encontrarmos pessoas sintonizadas com nosso espírito. E quando encontramos, nem sempre conseguimos ajustar todos os aspectos. É difícil ao esquisitão se entregar para qualquer pessoa e permitir que alguém invada seu íntimo. Afinal, já sofremos muita discriminação durante a vida, outras pessoas já nos machucaram.
São raros aqueles (como eu) que conseguem encontrar alguém para compartilhar o mesmo caminho. Eu mesmo demorei muitos anos, e meu primeiro amor é o único que eu tive (e que quero ter). Nos raros casos em que um esquisitão encontra alguém tão esquisito quanto ele e que consegue compreender exatamente o que se passa dentro dele, existe uma grande tendência de construir um relacionamento profundo, duradouro e diferenciado. O casal continua a ser discriminado (por vezes por pessoas bem próximas) e visto como esquisito, mas um tem ao outro e ambos se completam e dão paz um ao outro, constituindo uma relação de cumplicidade. Essa é a única possibilidade aparente de um esquisitão formar família. Até por que, temos pavor de relações mornas e superficiais e não apreciamos relações de aparência, brigas constantes, opressões e limitações. Se não somos aceitos pelos "outros", nosso par precisa nos acrescentar e nos aceitar.
7) O velho drama de arrumar emprego
Arrumar emprego também é uma árdua tarefa para o esquisitão. Tudo começa com o processo de busca. Ter que colocar nossas experiências profissionais em modelos engessados de currículos e sermos entrevistados por recrutadores que mais parecem robôs nos deixam desanimados. Sempre nos colocam contra a parede de tal modo que nos sentimos inferiorizados. Por não termos uma vida "normal", sofremos para convencer alguém que podemos ser excelentes profissionais. Tudo o que o esquisitão deseja é ter uma condição profissional privilegiada de tal modo que consiga se aceitar melhor, consiga se sentir bem consigo mesmo e não ser mais tão inferiorizado.
Ao conseguirmos o bendito emprego, sofremos também. Com raras exceções, precisamos conviver com tudo aquilo que odiamos: hierarquias, jogos de poder, pressão, disputas internas e falsidade. Na tentativa de sermos profissionais diferenciados, acabamos por sermos vistos como inferiores. Não raro, somos deixados de lado, mesmo tendo mais qualificação. Outras pessoas nos boicotam, nos sufocam, nos inferiorizam, com aquele velho medo de perder sua própria posição. Situações antiéticas, tão comuns em grande parte das empresas, chateiam demais um esquisitão. As salas de aula, os empreendimentos próprios e iniciativas particulares são os nossos principais refúgios, bem como aquelas raras empresas em que o ambiente de trabalho não sufoque.
8) Aglomero e barulho não são para nós
Por mais que a gente tente, é praticamente impossível encontrarmos paz e harmonia no barulho e em contato com muita gente. Nem sempre as festas noturnas fazem nossa cabeça. Bebida alcoólica não faz a menor diferença para um esquisito, que está sempre vivendo tantas realidade dentro de uma só pessoa. Futilidades e aparências não nos agradam. Tampouco gostamos de sermos julgados por nossa aparência. Pessoas aproveitadoras e mal-educadas nos deixam de mau humor. Esquisitos gostam de estar perto dos seus, mas mesmo nesses casos sentem saudade do conforto e do silêncio do seu quarto.
Como você bem pode perceber, tudo o que um esquisitão mais precisa é ser aceito como ele é. Afinal, somos pessoas que temos muito o que oferecer. Temos nossos defeitos e qualidades como qualquer um, somos diferentes como qualquer um, mas temos diferenças ainda mais acentuadas. Sofremos por conta das nossas diferenças. Mas também desfrutamos de situações e realidades únicas, o que torna o fato de sermos esquisitos um grande privilégio. Resta a nós mesmos aceitar exatamente o que somos. Saber que somos diferentes. E continuarmos procurando nosso espaço nesse lugar tão insalubre e tão belo.
Continua...
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Mudanças (quase) sempre desagradam
Nós, seres humanos, somos um tanto contraditórios. Se, por um lado, reclamamos de diversos aspectos de nossa vida e temos o desejo de ver as coisas melhores, por outro lado torcemos o nariz quando mudanças são finalmente apresentadas. Ou seja, aparentemente não estamos satisfeito com a atual realidade, mas também somos resistentes a mudar.
Sempre que se faz preciso mudar algo em nossas vidas (seja de roupeiro ou de cidade), é necessário desarrumar, parar para pensar, sair da rotina, adaptar-se com o novo. Nem sempre a mudança traz resultados positivos. Nem sempre nos adaptamos a ela. Mas em diversos casos ela vem para o melhor. Porém, é inevitável nos incomodarmos com ela no começo.
Talvez a maior das dificuldades esteja em aceitar as necessárias mudanças. Temos a tendência a nos colocar em uma zona de conforto, por mais dolorido que esse conforto seja. Assim, permanecemos no mesmo emprego, no mesmo bairro, no mesmo casamento, temendo os efeitos de uma possível mudança, a insegurança de viver o novo. Nós, humanos, somos orgulhosos e odiamos viver momentos de fragilidade e de vulnerabilidade. Mudar nos coloca em uma situação na qual precisamos engolir esse orgulho e superar o desconhecido. E nem todos estão preparados para mudanças em sua vida. Aí vai minha primeira provocação deste texto: você aí, que deseja tanto que as coisas mudem em sua vida, será que está preparado para o momento em que elas começarem a mudar? Será que você está preparado de fato para mudar? Ou há uma voz gritando em seu interior a implorar que você nunca mude nada? Infelizmente, muita gente não consegue conquistar seus desejos. E não é por medo de pessoas, medo de situações ou medo de não ter forças ou condições. É por puro medo de mudar.
Há um outro viés nessa questão da mudança: o que fazer quando o outro muda? Quando se trata de pessoas, deve-se considerar que elas estão sempre mudando, umas sem perceber enquanto outras mudam radicalmente de um dia pro outro. A mudança delas nos incomoda? Óbvio que sim. Pensamos até mesmo que a pessoa é infiel, não cumpriu seus próprios sonhos e não quis seguir seu próprio caminho. Nem sempre damos a chance de uma pessoa que está próxima seguir seu caminho, buscar sua felicidade e viver as mudanças em sua vida. Nos encolhemos, passamos a julgar os outros pelo simples fato de não serem mais como antes. Criticamos aqueles valores que mudaram e se afastaram dos nossos, nos revoltamos com o afastamento de alguns, fazemos até fofocas e, em alguns casos, sabotamos o outro e o fazemos se sentir culpado. Não damos ao outro o direito à mudança, e isso tem um motivo muito específico: temos medo da mudança. Temos medo de mudar. Temos medo de que as coisas mudem, E tememos muito quando outra pessoa mudou. Pois quando alguém muda, lá no fundo tememos ter ficado para trás, já não temos certeza de que nossos valores estão corretos. Até por que, nos aproximamos de pessoas que vão "afirmar" nosso jeito de ser, como se estivéssemos sendo "aprovados" pelo outro. Quando o outro já não nos aprova tanto assim, surge a dor. E nem todo mundo age de forma ética quando essa dor bate.
Por que escrevo tudo isso? Por um motivo simples: tudo muda o tempo todo, e não há nada que possamos fazer a respeito disso, No máximo, podemos diferenciar a maneira como reagimos às mudanças e podemos influenciar em nossas próprias mudanças. Em lugar de temer o futuro e blasfemar o presente, que tal se conseguíssemos aproveitar o presente como a melhor fase de nossas vidas e saber que logo logo ele vai acabar? E que logo em frente passaremos por mudanças, que essas mudanças vão "doer" mas ficaremos ainda melhores? Tendo essa noção, é possível sermos muito mais fortes diante das mudanças e assim conseguimos nos abrir para que o Universo todo aja a favor de mudanças positivas em nós. E quando o outro mudar, que saibamos, acima de tudo, ACEITAR. E, se for o desejo do outro, deixemos que siga seu caminho. Caso exista a possibilidade de continuar lado a lado, tentemos compreender sem sair julgando, afinal num futuro não muito distante nós mesmos poderemos ser levados pela vida ao mesmo caminho. Em nenhum momento devemos difamar, falar mal, julgar, diminuir ou torcer contra as mudanças de vida dos outros. Devemos fazer nossa parte para que também em nós a roda da mudança comece a girar.
Perceba você que, muito mais do que AGIR, é necessário ACEITAR. Diante das mudanças, aceite-as. Vibre com elas, tente crescer com elas. Aceite com paz no coração que nada é para sempre e nunca mais seja pego desprevenido pela vida. Seja sempre positivamente positivo e a vida irá conspirar a seu favor. E, por gentileza, jamais interrompa o fluxo da mudança. Ele é natural e universal. Sempre que tentar bloquear suas mudanças, estará a prejudicar (e muito) a si mesmo.
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