Males do século XXI: Preocupação

Certamente, a principal reclamação que podemos ouvir de qualquer pessoa nos dias atuais, independente das atividades que desempenham em seus cotidianos, é a mesma: "não tenho tempo". Parece que estamos pressionados a todo o momento por uma força invisível que nos faz estar sempre atrasados e com a sensação de que estamos sempre ocupados e com muitas coisas a fazer. Acabamos por viver com um pé no futuro e outro no passado, sem estar presente no presente, sem levar lições do passado e sem garantir o futuro, dando a ele somente perspectivas sombrias.

Mas afinal, será que realmente temos motivos para estar ansiosos e preocupados, correndo atrás do tempo a todo o momento sem permitir que a alma tenha um pouquinho só de paz? Há alguma coisa no nosso dia a dia que realmente faça por merecer nosso estresse? Arrisco dizer que não...

Temos um especial apego por tudo aquilo que é material, e um péssimo hábito de materializar o que está acima desse plano. Ou seja, passamos os dias "lutando" para manter a casa, as contas em dia, o carro, o status social, o/a cônjuge (que também se transformou num bem material com condições pré-determinadas), os estudos e tantos outros. Agora, paremos para pensar: se todas essas coisas fossem instantaneamente tiradas de todos os seres humanos, qual seria o sentido da existência? Será que nosso apego cego e desenfreado diante de tudo isso não passa de um medo de se encontrar diante de um vazio existencial? E não estão todas aquelas pessoas que não tem tantas ocupações mergulhadas no escuro da depressão? 

Estamos mergulhando em uma situação onde não conseguimos mais sequer discernir o que é bom ou ruim em nossas vidas, onde estamos fazendo quase tudo automaticamente e sem consciência, onde deixamos para amanhã ou depois decisões e ações que mudariam o panorama de nossas vidas, e nos cercamos de ameaças e medos que no fim das contas não fazem sentido. Trazemos para dentro da nossa alma sentimentos ruins derivados de atritos insignificantes com os nossos semelhantes, que por sinal estão buscando o mesmo que nós. Deixamos de valorizar os bons e pequenos gestos, e engrandecemos por demais os "deslizes" cometidos pelos outros. Exigimos que nos compreendam quando falhamos, mas somos intolerantes com quem falha conosco. Nos rodeamos de uma série de leis e regras, trazemos para nosso interior uma noção de verdade absoluta e queremos que todos sigam o que ditamos a nós mesmos. Com isso, nos rodeamos ainda mais de incertezas, de preocupações e medos, pois não sabemos confiar em ninguém nem tampouco acreditar nas pessoas e no sucesso. 

Mas mesmo diante de tal contexto, ainda existe uma possível fuga: se você se preocupa com sua aparência, deveria saber que não existe padrão algum para a BELEZA, e que a sua beleza é única, independente de como se veste ou se porta. Se é sua condição financeira que lhe preocupa, saiba que há coisas muito mais simples e valiosas que o dinheiro. Se são os seus estudos que te deixam preocupado, saiba que você vai aprender muito mais na escola da vida com suas experiências do que na sala de aula, que os corredores de sua faculdade terão muito mais conteúdo que a própria sala de aula e, principalmente, que você aprenderá de verdade somente aquele assunto pelo qual você tem uma verdadeira sede de aprendizado. Se queres um diploma, esqueça, ele não serve de nada, no fim das contas você será interpelado pelo que é capaz de fazer, não pelos títulos. Tens medo de perder a pessoa amada ou de ficar solteiro/a o resto da vida? Nunca perdemos aquilo que conquistamos de verdade, portanto tenha ao seu lado que te ame exatamente como você é, que te ame sem motivo algum, por que se houver algum motivo pelo qual essa pessoa se atraiu por você (dinheiro, status, inteligência e outros), você já começou errado, essas coisas são de certo modo finitas e materiais. Se tens preocupação e medo diante da pessoa "amada", você não a ama, apenas firmou um contrato com ela, assim como firma com uma financiadora ao comprar um veículo. O amor não permite essas coisas. E ficar solteiro não faz mal algum, aprenda a curtir a si mesmo, que naturalmente mais gente se interessará. Teu trabalho te incomoda e tua chefia te pressiona? Faça seu melhor, tenha a consciência tranquila e seja dono de todas as situações, deixando de lado o pensamento passivo de ter que esperar as horas passarem.

Perceba que 99% das nossas incomodações são estúpidas e no final das contas não tem razão de existir. Chegar atrasado no serviço, desagradar o melhor amigo, sofrer ou causar algum acidente são meras causalidades que fazem parte do nosso dia-a-dia e servem para tornar tudo mais interessante, basta que deixe de levar tudo e todos a sério e pare de encaixar todas as coisas em suas regras pré-concebidas que não tem nada a ver nem com a verdade nem com a mentira. E pare para pensar em como suas preocupações tomam conta da sua vida a ponto de lhe deixar sufocado. Note que sobra muito tempo em seus dias, que dá pra fazer muita coisa por si mesmo e pelo mundo. E em lugar de destinar suas forças para tanta banalidade, preocupa-se com a sua saúde, em conquistar a pessoa amada todo dia, a ser grato pela sua vida e por buscar coisas boas e agradáveis, a fazer o bem e espalhar o amor. Não se cerque em torno da ansiedade e da preocupação, nem use a desculpa da falta de tempo, pois essa é uma atitude dos covardes. Encare sua própria vida, corra atrás dos seus sonhos e das suas vontades, independente da distância e do esforço que terás que desempenhar. Confie em si mesmo e nos outros e faça tudo valer a pena. No fim das contas, realmente vale. Mas acima de tudo, tente viver com paz no coração, na medida do possível, com a certeza que nada se perde na vida, que todas as experiências são boas e que, diante de Deus, tudo está encaixado de tal maneira que dará tudo certo no final.