segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Queremos que o tempo passe

Nós, humanos, acostumamos com o tempo a planejar certos objetivos na vida, acreditando que a felicidade somente se dará a partir do momento em que determinadas metas forem atingidas, certas experiências forem vividas ou simplesmente quando o tempo passar e for possível superar situações desagradáveis. Justamente por esse comportamento, estamos na era da ansiedade, por que exigimos de mais de nós mesmos, queremos dar conta de tudo, abraçamos cada vez mais causas nem sempre justas e queremos logo conseguir com isso uma plenitude até o último dia de nossa vida. Quase sempre o dinheiro faz parte de todos os planos, e somente os recursos materiais parecem garantir o futuro e fazer a vida valer a pena. E quanto ao tempo presente? Não o aproveitamos, apenas passamos por cima dele com um certo ódio, querendo que passe logo para que os dias melhores venham logo. E assim, queremos que rapidamente chegue as 17:30, queremos logo que chegue a sexta, queremos logo que chegue mais um Natal, o verão, as férias. Queremos logo ser promovidos, queremos que a formatura chegue de uma vez e que as aulas acabem rapidinho, ou que o professor falte, ou libere mais cedo. Temos pressa em nos deslocar para a faculdade, na escola, no emprego ou em casa. Queremos que os nossos filhos cresçam logo e livrem-se dos incômodos da fragilidade infantil.  E assim passam-se um ano, uma década, meio século, e nunca ficamos satisfeitos. Se os objetivos não foram alcançados por algum motivo, lamentamos nossa má sorte, e se foram atingidos, resta apenas um sentimento de vazio. Em ambos os casos, persiste a nostalgia pelo tempo que passou e não foi devidamente aproveitado.

Mas será que essa nossa atitude não está acabando com a nossa vida, mesmo que permaneçamos vivos? Será que não estamos com tudo isso abdicando do direito de aproveitar os privilégios do tempo presente? Não estamos deixando de desfrutar do privilégio da nossa atual saúde, dos nossos atuais amigos e colegas, da nossa atual convivência, do belo caminho até nossa casa, do sorriso de uma criança e de tudo o que nos faria sorrir? Ou esquecemos que cada dia é um dia único e que nunca mais retornará, que as pessoas mudam, o planeta e a sociedade inteira mudam e nós mesmos mudamos a cada segundo? Que espécie de parâmetros adotamos para saber que com determinada posição ou objetivo alcançado seremos felizes? Quantas e quantas vezes deixamos de fazer o que mais queríamos por que pensamos demais num futuro que nunca virá? Sim, por que sempre estamos no momento presente, que é o futuro do nosso passado. Ou, pior, quantas vezes nos submetemos a algo que não queríamos por que valia mais a pena garantir o futuro? Quantos planos influenciados, quantos amores deixados de lado, quantos desejos sufocados...

Sim, é bem verdade que tudo aquilo que plantamos colheremos no futuro, essa é uma lei universal. Mas não devemos prender nossa alma a tal ponto de deixar de viver o momento atual na angustiante espera pela colheita dos frutos. Cada momento da nossa vida é único e especial, e é sem dúvida um grandioso desperdício terminarmos um dia com ansiedade, angústia, depressão, estresse e tristeza por nos submetermos á uma série de privações e obrigações cotidianas que aparentemente garantem o futuro, mas que na verdade servem também de fuga ao nosso presente. Utilizamos a escassez de tempo também para ocultar nossos pontos fracos e boicotar tudo aquilo que nosso coração pede. Não há como não colher resultado diferente: daqui algum tempo, estaremos exatamente iguais, pois não aproveitamos o tempo presente para nos livrar dos nossos vícios nem para ter maiores aprendizados. Investimos de mais no futuro, e quando ele chega, nós mesmo não estamos preparados. Infelizmente a maioria de nós constrói somente o dia de amanhã até o momento em que a vida se encerra e nos é negado o direito de esperar pelo amanhã que não mais virá. Será que nosso grande problema não é justamente acreditar que essa vida durará para sempre? E se vivêssemos sob constante ameaça de morte, será que não desfrutaríamos melhor da vida e faríamos o que realmente nos interessa?

Vários são os questionamentos que surgem, mas devemos pôr a mão na nossa consciência e resgatar tudo aquilo que nos faria pessoas melhores e mais felizes imediatamente. Geralmente temos nossas próprias respostas, únicas e pessoais de cada indivíduo. Também é válido analisarmos todas as situações em que nos envolvemos durante nosso dia a dia que causam males como a ansiedade e a depressão, considerando se essas situações precisam mesmo ser mantidas e que sentido existe em permanecer a vida dessa forma. Ao notarmos que não vale a pena continuar determinada situação ou comportamento, nada melhor do que provocar as mudanças que, no fundo, sempre quisemos. Afinal, a prisão dos nossos anseios resulta em consequências psíquicas. Não devemos pensar em adquirir benesses, e sim valores, valores que se traduzem no sentido da nossa existência. E dessa forma, construiremos uma vida com a nossa cara, que diz mais respeito a nós mesmos do que a qualquer padrão que a família ou a sociedade já construiu. E, então, não precisaremos mais esperar ou desejar incessantemente que o tempo passe, mas desejaremos imensamente fazer com que ele valha a pena agora mesmo. 


GOSTOU DESSE TEXTO? Leia também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog

Arquivo do blog