sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A escolha pela liberdade

Sim, nossas vidas são extremamente corridas. Nos vemos engolidos pelos afazeres e somos cada vez mais exigidos, seja pela sociedade ou por nós mesmos. Ter momentos felizes de verdade parece algo raro e distante, praticamente impossível, a falta de tempo e o estresse são presenças constantes na vida de todas as pessoas. Mas afinal, para o que estamos dando maior importância?

Ontem pela manhã acordei de mau-humor. Dormi demais, o suficiente para deixar de lado os afazeres da faculdade, sabendo que ali, fora da cama, haveriam muitas exigências. O trabalho me sugaria nas 11 horas seguintes e não daria pra tomar café da manhã mais uma vez. A monografia permanecia atrasada como sempre. Os trabalhos da faculdade estão bagunçados. Os cuidados com corpo e pele não estão surtindo efeito. Os projetos paralelos pareciam desmoronar. Tudo o que eu desejava era simplesmente poder novamente dormir e acordar somente muito tempo depois. Ou seja, deixar de existir. 

Já de cara feia e chegando no trabalho, parei alguns segundos apenas para pensar.  Essas situações todas me fizeram lembrar que mesmo com o direito que temos de ser livres, estamos sempre presos. Algumas grades já estão por aí há muito tempo, outras nós construímos ao nosso redor. Não sabemos viver se não estivermos cheios de coisas que preencham o vazio das 24 horas e nos faça parecer que somos importantes, que estamos indo no caminho certo e que estamos lutando para chegar a algum lugar que nem ao certo sabemos qual é. Até nosso pensamento está preso. Não conseguimos nem parar para pensar em n[os mesmos, na vida, no sentido da nossa própria existência. E estamos cheios de idéias pré-concebidas, preconceitos e acúmulo de "saberes". Nos criamos com a idéia do julgamento, da separação das coisas entre boas e ruins, e isso faz toda a diferença. Ou seja, além de considerarmos ruins uma série de fatores ao nosso redor, nos sentimos presos a determinadas realidades e não conseguimos nos desvincilhar. E pra completar, nos prendemos a certas idéias e escolhas com vistas a garantir o futuro. Mas já estamos vivendo o futuro de um passado distante (ou nem tão distante assim). Chegamos, por acaso, à plenitude? Não, continuamos insatisfeitos com a vida. Vivemos num constante estado de insatisfação.

Essa insatisfação surge lá de dentro do nosso ego. Somos um ser único e especial, logo cada um de nós tem seus anseios. Por esse motivo, tudo o que não está de acordo com o que queremos é desprezível e parece merecer nossa raiva e insatisfação. No fundo, é como se fossemos donos da verdade absoluta e quiséssemos que o mundo fosse da nossa maneira. Demoramos para entender que na verdade estamos cercados por um universo infinito de seres, de criações e de possibilidades. Vemos uma flor em nossa frente mas não vemos todo o maravilhoso processo de formação de uma planta. Vemos uma pedra e não temos consciência de quantos milhões de anos ela demorou para se formar. Vemos uma pessoa que consideramos estranha e vazia e não percebemos tudo o que ela carrega de dores, histórias e esperanças. Todos precisamos de tudo o que nos cerca e de todos os outros. Somos pequenas partes integrantes de um projeto muito maior e complexo, porém simples. No fundo, todos buscam sua própria sobrevivência e seu sentido, e tudo se torna mais conturbado quando uma dessas pequenas peças se considera mais nobre do que as demais, dominadora de maiores saberes, dons ou poderes. Durante toda a história da sociedade os conflitos ocorrem justamente pelas lutas de classes, ou seja, pelo fato de não sermos unificados e não nos tratarmos com igualdade e respeito há muito tempo. Hoje, nossa realidade continua sendo de luta para que não sejamos inferiores e possamos dar alguma contribuição. E por haverem tantos objetivos diferentes, acabamos por nos frustrar em ver todos tomando rumos diferentes. Nos frustramos em perceber que são poucos os fatos em que conseguimos exercer influência, na maioria dos casos tudo o que acontece externamente não depende da nossa vontade.

E será que devemos mesmo levar a sério essas nossas frustrações com o que acontece fora de nós? O ego que pulsa dentro de nós que nos leva a querer fazer as coisas à nossa maneira, a criar manuais e regras segundo as quais o mundo seria melhor...e nos frustramos ao ver tudo parecer ir contra, por se sentir preso tanto dentro como fora do sistema. Mas somos nós que nos aprisionamos. Queremos ser deuses, queremos que a nossa verdade prevaleça, não consideramos justo tudo o que acontece e achamos que é culpa de outras pessoas. Criamos inimizades, colocamos a "culpa" em outra pessoa, quando na verdade tudo e todos estão aqui como meras e pequenas criaturas com suas peculiaridades únicas e suas doses de loucura disfarçada de lucidez num manicômio que podemos chamar de mundo. Cada uma dessas criaturinhas está inserida num universo de infinitas possibilidades, porém todas elas até um determinado limite.

Mas por incrível que pareça, ainda somos livres! O livre-arbítrio que temos nos permite escolher entre tentar ser deus e lutar para transformar o mundo e revolucionar o manicômio à nossa maneira ou ser uma criatura de Deus e permitir que as coisas fluam em sua naturalidade, dedicando nossos dias a compartilhar a paz e o amor como forma de gratidão pelo simples fato de existir. E é essa possibilidade que me movimenta. Podemos também escolher ver toda a criação (o mundo, as pessoas) como um manicômio de pessoas alopradas e perigosas, com paredes cinzentas e cadeados nas portas. Ou podemos vê-lo como um divertido tabuleiro de jogo da vida onde, por sua vez, podemos escolher se queremos ter saldo positivo na conta bancária ou se queremos ter mais abraços e amizades, ou então as duas coisas. Podemos ver o céu cinza e se magoar com o dia chuvoso ou admirar o belo espetáculo da chuva, que nos acostumamos a ver como algo ruim. Podemos reclamar do trabalho ou agradecer por te-lo. Podemos reclamar do corpo ou agradecer pela saúde. Podemos reclamar por não poder comprar todas as fotos da formatura ou ser extremamente gratos por ter se formado. Essa escolha sim, está lá dentro. 

Não depende de nós o que acontece, mas depende de nós como encararemos o que está por vir. E quem consegue conectar-se diretamente com o Criador, seja lá como o chame, deixa de ser egoísta e pedir em todas as preces que conceda os desejos de nossos egos, mas deseja unicamente manter um pedacinho da essência universal do amor dentro de si, de modo que tenha todas as habilidades e forças para adaptar-se e conviver com todas as possibilidades que vierem, pretendo amar todas elas sem estabelecer nenhuma condição por isso ou querer alguma coisa em troca. As possibilidades que a vida oferece são infinitas, as preocupações, por sua vez são todas estúpidas e as prisões são criadas por nós mesmos, quando queremos ser deuses e deixamos de ser, unicamente, humanos.

E a você que chegou até aqui, não esqueça em nenhum momento de ser livre!

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