domingo, 31 de julho de 2011

Os mendigos do século XXI

Desde os tempos primórdios da humanidade, já há registro de um problema gravíssimo e que toma conta da sociedade desde que ela existe, resistindo a todos os tipos de mudança social: a mendicância. Ela parece se adaptar com o decorrer dos anos, e não deixa de atingir uma grandiosa fatia da população mundial. 

No antigo Egito, na Mesopotâmia, no Império Romano e em todas as civilizações aparecem registros históricos sistemáticos de problemas crônicos de fome, pobreza extrema, miséria, pestes, guerras e todo tipo de calamidade capaz de ceifar muitas vidas rapidamente. E é assim que classifico a miséria, como a situação na qual um ser humano se encontra a tal ponto de não conseguir manter sua sobrevivência básica. Consideremos que até o século XIX a humanidade ainda não totalizava um bilhão de indivíduos. Milhões morriam a todo o momento. Os alimentos, tão fáceis que são de encontrar hoje no supermercado, eram uma incerteza constante. Qualquer peste ou tempestade poderia significar uma crise de alimentos em larga escala, e dessa forma muitas famílias inteiras morriam minguadas, sem conseguir nenhuma forma de se alimentar. Não foi a toa que os franceses introduziram a lesma em sua alimentação, era necessário comer realmente o que tinha. Entre os séculos XVI e XVII estima-se que um quarto da população vivia em mendicância e miséria absoluta. A mendicância é ainda maior que a miséria, é não ter rumo algum para sua vida e nenhum sentido que a mantenha, é depender das migalhas e dos restos dos outros, ser excluído da sociedade e viver ás margens dela, fugindo de todos, fugindo de si mesmos, fugindo do nada, fugindo para o nada. Na Europa, o governo mantinha constantes ordens para matar todos os mendigos que fossem encontrados, de modo a "manter a ordem social". Nos dias atuais, é muito difícil se imaginar nessa época onde a sobrevivência era tão complicada.

A chegada dos séculos XIX e XX trouxe uma verdadeira revolução na história da humanidade. A tecnologia foi responsável por nunca mais deixar que os alimentos se tornassem escassos, e fossem produzidos em larga escala, sendo encontrados facilmente. E não foi somente isso,mas as condições de trabalho melhoraram, surgiram os meios de comunicação, os sistemas de canalização de água e esgoto, as máquinas, os meios de transporte, a energia elétrica, tudo como se fosse um passe de mágica. A vida se tornou mais fácil, de modo que a população mundial saltou de um para sete bilhões em menos de dois séculos. Graças aos esforços e ao sofrimento dos nossos antepassados, chegamos ao século XXI com um nível de facilidades incrível, e mesmo as pessoas pobres dessa nova era sofrem muito menos que os nobres da Idade Média, de tão gritantes que são as diferenças.
Entretanto, mesmo com toda essa revolução, ainda existe aquela margem de excluídos sociais. Os governos adoram apontar estatísticas mostrando a mendicância sendo praticamente erradicada, além de todas as condições oferecidas atualmente para que não se permita que pessoas morram de fome ou miséria. É bem verdade que essa é uma realidade que ainda não chegou a muitas partes do mundo, mas já acontece em grande parte do planeta. Pode-se concluir que a revolução capitalista acabou com o problema da mendicância? NÃO.

Mais uma vez constata-se que a mendicância segue conosco em nossa sociedade, atacando inúmeras pessoas que agora nem mais fazem parte das estatísticas dos indigentes. As estatísticas que medem os mendigos do século XXI estão ligadas ao número de doentes psíquicos, especialmente depressivos. Mas as estatísticas escondem um número cada vez maior desses mendigos modernos. As crianças e os pré-adolescentes atuais são mendigos em sua grande maioria. Seus pais saem de casa para trabalhar e estudar, voltam tarde, nunca lhes dão a atenção e o carinho merecidas, com a desculpa de que estão indo buscar a felicidade deles, estão indo atrás do sustento deles. Esquecem que os filhos precisam da presença e do amor deles acima de qualquer outra coisa. São crianças órfãs de seus próprios pais, que sofrem com a obesidade, com os vícios na televisão e no vídeo-game, que não tem mais qualquer tipo de vida social. A escola serve unicamente para exibir-se para os demais, não existe mais brincadeiras nem contatos amigáveis entre as crianças e adolescentes, apenas uma eterna competição. As músicas que ouvem, os programas televisivos e tudo aquilo que são obrigados a digerir denigre ainda mais seus cérebros ainda tenros, já os expõem às bebidas alcoólicas, às drogas, à violência e ao sexo cada vez mais cedo. E, o pior de tudo, não tem a menor capacidade de pensar, não tem senso crítico e tampouco são capazes de valorizar seus sentimentos, pois perderam a capacidade até mesmo de sentirem. Portanto, são mendigos em sua grande maioria. O índice de mulheres mendigas aumenta dia após dia, pois com essa ideia de liberdade as mulheres precisam fazer verdadeiros milagres, precisam trabalhar, estudar, cuidar dos filhos, deixar a casa em ordem e precisam ser uma boa esposa, tudo num curtíssimo espaço de 24 horas. Por natureza sabemos que as mulheres são o sexo forte, ao contrário do que diz o pensamento patriarcal e machista. Mas essa correria toda não a está levando a lugar nenhum. Ela já não tem contato consigo mesmas, não se permitem mais sequer cuidas de sua própria beleza, algo natural quando se trata do sexo feminino. E quando resolvem considerar o fator BELEZA, deprimem-se ao tentar chegar aos padrões que toda hora são vendidos através das modelos e atrizes de novela, e eventualmente suas auto-estimas caem consideravelmente quando começam a olhar umas para as outras, caindo na surda competição feminina da qual quase todas as mulheres fazem parte. Como é impossível chegar aos padrões, isso faz com que elas fiquem eternamente insatisfeitas consigo mesmas. E mesmo as que conseguem ter o corpo "ideal" vivem num mundo de faz de conta, e seus interiores estão tomados pelo vazio. Homens mendigos há aos montes. Suas criações já os fazem tornar-se adultos prepotentes e ignorantes, como se o mundo todo tivesse que servi-los. Já não valorizam sentimentos desde cedo, tratam mulheres como se fossem artigos colecionáveis, e não como seres humanos. Suas capacidades de pensar e de ter senso crítico são ainda menores, já há muito tempo eles são imbecis em sua grande maioria. Resumem suas vidas a trabalhar, beber e farrear, não pensam no futuro, não pensam no presente nem nas pessoas que estão ao seu redor, em grande parte são insensíveis. E acham que são o máximo, que estão fazendo tudo certo. Demoram décadas para deixar de serem crianças, a maioria vai para o túmulo sem ter amadurecido. E por acreditarem que estão certos e são normais, tornam-se mendigos sem sequer perceber que acabam com suas vidas dia após dia. A maioria não se dá por conta disso nunca. A sociedade patriarcal lhes confere um status de liderança que nada tem a ver com suas capacidades de tê-la. Em qualquer parte da sociedade há muitas pessoas cuja vida gravita em torno de um homem, mas ele é geralmente egoísta, não dá a menor importância a isso, e mantém quase em estado de abandono a esposa e os filhos, quando os possui. Vivem em torno de uma maldita competição sobre quem bebe mais, quem é mais mulherengo, quem tem o melhor carro e etc. Os adolescentes devem ter comportamento de pequenos adultos, porém estão agindo como se não tivessem cérebro nem coração. Convivem com a vazies de conteúdo, igualmente sem discernimento crítico, sem caráter, revoltosos com o mundo por ele não passar a mão em suas cabeças, entregues a um mundo de promiscuidade. Os idosos são considerados estorvos, esqueceram de contar para a sociedade atual que foi graças aos esforços deles que temos tudo o que temos hoje. Não somos gratos nem mesmo com nossos pais, esquecemos que as condições de ida deles foi diferente da nossa, os culpamos por serem o que são.  Os poucos a fugir dessa realidade são considerados insanos, e não conseguem aceitar a si mesmos. Quando procuram ajuda, são dopados com drogas ou com costumes que lhes façam ser iguais a todo mundo. A mendicância no século XXI está tão grave que em breve será a realidade, e ninguém se dará por conta de que vive como o pior dos mendigos, pois perdeu completamente a capacidade de viver e seus atos estão todos em torno do consumo desenfreado e do status que essa postura vai lhes trazer. Vivem de migalhas e restos, pois dependem dos resultados de sentimentos nocivos como a inveja e a paixão para usufruírem de uma pseudofelicidade. Sonham em ganhar na Mega-sena ou aparecer na lista da Forbes, ou então na revista Caras, sem saber quão pobres são cada pessoa que ali aparece. Cada um ali é um mendigo, pois são pobres a tal ponto que a única coisa que tem em suas vidas é dinheiro, além do status que esse lhes confere. Os maiores casos de mendicãncia estão nas classes mais altas, pois sua sobrevivência está garantida, mas o sentido para suas vidas se esvaiu por completo. É onde se encontra grande número de indigentes modernos, daqueles que sofrem tamanho abandono dos outros e de si mesmo que não fazem parte da vida de ninguém, sua falta praticamente não é sentida.
A mendicância do século XXI está tão grave que pode atingir a maior de todas as taxas registradas na história. Nossas gerações anteriores lutaram tanto pata termos uma qualidade de vida melhor agora, e olha só o caminho que estamos tomando, o que estamos fazendo, o que a humanidade está fazendo com o que conquistou até aqui. Em breve não teremos mais recursos naturais, em breve teremos de novo crise de alimentos, em breve as guerras estarão de volta á tona, em breve sequer saberemos sentir ou pensar. Cometeram o grave erro de deixar essa geração com conforto demais, a tal ponto de ser uma geração completamente vazia, que vive nos porões da sociedade sem perceber, que tornam-se ridículos. Será mesmo que e preciso manter constantes dificuldades para manter o ser humano trabalhando? Serão necessárias catástrofes e tragédias para que saibamos dar valor ao que realmente importa em nossas vidas? Ou é mais fácil e mais cômodo se tornar mais um entre todos os mendigos? 

Em todos os lugares temos pessoas mendigando, independente da classe social. Mendigam por um pouco de sentido para suas vidas. Mendigam por um sentimento puro e verdadeiro. Mendigam por carinho. Mendigam por liberdade. Mendigam por momentos verdadeiros de prazer e alegria. Mendigam por verdadeiros amigos. Mendigam por um pouco de paz e de sossego. Mas a diferença entre a mendicância entre esse século e todos os anteriores é que ninguém esta apto a jogar migalhas para todos esses pobres indigentes, mas sim para vender a idéia de que são felizes assim, e hoje em dia ninguém é capaz de contestar essa idéia. Por isso, essa mendicância se torna ainda mais cruel, mata pouco a pouco a pessoa por dentro, consome e corrói sua ama sem que ela perceba, pois está tão alienada e tão desacordada que perdeu essa capacidade de sentir essa dor, perdeu a capadiade de ouvir o próprio coração ou de se revoltar com aquilo que definitivamente não lhe faz bem. Mudar isso parece utopia, pois os maiores mendigos que temos em nossa sociedade são os exemplos de pessoas bem sucedidas, e todo mundo caminha e orienta sua vida para o mesmo cruel destino. Há maneiras de mudar isso? Com certeza. Mude a si mesmo. Ouça seu coração, valorize sua vida, seja fiel consigo mesmo, preocupe-se com sua consciência e esqueça sua reputação. Jamais perca o contato consigo mesmo, pois dessa forma estás livrando a si mesmo de ser um mendigo. E quando constatar que não és um mendigo, faça sua parte, pois há muitos famintos mundo afora que clamam por algumas migalhas...Lembre-se também que precisamos deixar algum legado para as próximas gerações, a começar pela educação a elas agora, do contrário os efeitos podem ser ainda mais catastróficos.

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