Uma rápida olhada no meu próprio blog atesta: tenho escrito cada vez menos. Logo eu, que tanto amei as palavras e via nelas infinitas possibilidades de expressão de sentimentos e ideias fui me deixando levar por outras atividades. Em cada oportunidade de publicar para este blog, as palavras já pareciam estar prontas para serem digitadas, é como se fosse inevitável a publicação de cada texto, estava ali na mente formado o tempo todo. Me pergunto agora: o que me fez reduzir uma das atividades que mais gosto? E por que motivo gosto tanto de escrever?
Desde a infância eu tenho a prática da escrita, embora não de forma organizada ou periódica. Escrever sempre foi uma necessidade para alívio da alma. Materializar o que eu sentia me fazia muito mais leve. Talvez nunca fosse compreendido por aqueles textos, mas eu conseguia me compreender melhor. Eu não tinha amigos nem atividades que pudessem me fazer mais distraído e contente, sempre vivi com medo do mundo. A escrita foi a forma que encontrei de criar o meu próprio mundo fechado e viver nele. Ao escrever, podia chorar sem derramar lágrimas, gritar sem abrir a boca, esbravejar com alguém sem essa pessoa jamais saber, se apaixonar, se decepcionar consigo mesmo. Tudo aquilo que eu era impedido de dizer ao mundo eu escrevia para mim mesmo, quase em segredo.
Escrevo regularmente desde os meus 15 anos e passei a publicar meus textos com 20. Agora tenho 23 anos, e de lá para cá os textos mudaram consideravelmente. Eles conservavam os tons de revolta, eram mais incisivos, como se o autor tivesse certeza absoluta a respeito do assunto e estivesse sempre certo. A revolta ainda era um resquício acumulado da infância e adolescência que não teve oportunidade de ser escoada. Com o tempo, o tom foi abrandando e as postagens se tornaram cada vez menos numerosas, a tal ponto de chegar a frequência de um sofrível texto a cada três meses.
Entendo que, com o passar do tempo, eu tenha amadurecido e percebido que na verdade sou apenas um aprendiz e tenho pequeno conhecimento e grande ignorância. A raiva cedeu lugar a tolerância, todas as situações e seres humanos passaram a merecer respeito e consideração. As certezas deram lugar à dúvida. A linguagem dos textos, antes mais coloquial, foi se tornando cada vez mais formal. Uma formalidade que buscava melhorar a qualidade da leitura, mas que também poderia afastar o escritor do leitor. As postagens se tornaram mornas e com pouco conteúdo, e os comentários sumiram das páginas, visto que para o leitor nada acabava somando. Aprendi o significado da palavra "hipocrisia", que é justamente idealizar um mundo melhor, esperar melhores práticas por parte das outras pessoas e expressar tudo isso em belos textos sem no entanto seguir esta realidade. Percebi, por fim, que o medo de errar ou de zangar alguém e de escrever amadoramente de mais acabaram por sucumbir a essência da minha escrita. É como se eu não tivesse mais o direito de expressar minhas opiniões e minha voz e não pudesse mais contrariar ou ser contrariado, como se isto não fosse um processo normal entre seres humanos imperfeitos.
Mas as palavras possuem um poder magnífico. Algumas poucas frases publicadas no Facebook me fizeram entender que algumas pessoas precisam de apenas uma palavra para seus dias serem melhores. Escrever faz muito bem para quem o faz, e escrever narrando experiências e conhecimentos vivenciados na prática é melhor ainda.Nada mais gostoso do que alguém que lê o que você escreveu e se identifica ou se dá conta de determinada realidade. A escrita, em lugar de substituir a nossa comunicação oral, torna ela muito melhor. A escrita é uma forma de gerar e receber conteúdo ao mesmo tempo. Uma oportunidade de aprender e ensinar ao mesmo tempo. Uma oportunidade para refletir e fazer refletir. De conhecer e de se conhecer. Expressar ideias e receber ideias de volta. Uma oportunidade de falar consigo mesmo e com muita gente ao mesmo tempo.
Esta é a realidade de um escritor amador como eu, onde a escrita se
confunde com a própria vida. O que escrevi nos meus últimos anos fala
muito sobre mim, e o que escreverei, com as experiências de vida
adquiridas a cada momento também mostrará. Para os próximos textos, tomarei a mesma postura que tomei para a vida: expressar tudo o que se sente, sem medo do que irão pensar, sem medo de ser repreendido por alguém. É uma forma de dar a mim a oportunidade de ser sempre eu mesmo, de verdade, em cada um dos meus textos, sem tentar mostrar uma realidade que nunca acontecia de fato.
E aquela perguntinha que antes apitava na cabeça já tem uma resposta. Quanto mais se escreve, menos se vive? Não, quanto mais se vive, mais há a se escrever.
Me senti parte do Pensadores Amadores agora!
ResponderExcluir"Nada mais gostoso do que alguém que lê o que você escreveu e se identifica ou se dá conta de determinada realidade."
Tinha algo mais do que apenas imaginação naquelas nossas receitas especiais..
Um grande abraço primo!
Superparabéns pelo blog!
Tá vendo, prima, a gente é pensador amador desde cedo!! Hehehehe. Tenho essas receitas até hoje comigo, e bem se percebe que aquelas crianças que faziam pudim de língua de hipopótamo podiam ir mais além!
ExcluirMuito obrigado por ser minha fã número 1 do blog.
Abração