Justamente por gostar de escrever textos que levem o leitor a uma reflexão consigo mesmo, também gosto muito de ler mensagens de mesmo teor, de diversos autores. Muitas delas me calam fundo e me fazer viajar para longe, outras não me tiram do chão. Mas o texto "O sucesso é construído à noite", de Roberto Shinyashiki" foi mais além. Num primeiro momento, as palavras me causaram uma grande motivação, uma vontade de viver e fazer as coisas acontecerem. Mas, num segundo momento, comecei a questionar cada trecho e então passei a enxergá-lo com outros olhos. Logo, essa postagem será uma análise crítica deste texto já tão conhecido do Shinyashiki, e por ser um texto opinativo ele não reflete a verdade - nem a mentira, espero.
Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes.
Uma abordagem como essas me joga contra a parede, e me questiono então: quais sonhos cultivamos? Não serão esses sonhos meramente materialistas? Não estamos buscando adquirir benesses como carros, casas, roupas e status social? Ou quem sabe queremos cargos de chefia, salários mais altos? Me preocupo com as definições de sonhos, pois acredito que um sonho de verdade tem muito mais a ver com nossa alma, com os anseios do nosso coração. Conhecer lugares diferentes, estar em paz com a família, tornar-se uma pessoa melhor, ter a vida mais leve, estes são alguns dos meus sonhos. Sempre necessitarei das benesses materiais, mas será mesmo que é válido "sacrificar" dias para tal? O sacrifício remete à renúncia, e temos que tomar muito cuidado com ela. Não podemos transformar nossa vida em um desperdício de todos aqueles valores inestimáveis que já nos rodeiam em detrimento do alcance de alguns poucos que não são tão importantes assim. Antes de pensar em renunciar qualquer coisa, temos que pensar que o dinheiro compra casas, carros, roupas, jóias, viagens e status social, mas não compra o aconchego da família, não compra o colo da mãe, a lambida do cachorro, as brincadeiras do filho ou o beijo da pessoa amada. Se tudo aquilo que estivermos buscando não fizer de nós pessoas melhores para conviver e cultivar aquilo que mais amamos, então não vale a pena.
Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá que se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo. Se quiser um casamento gratificante, terá que investir tempo, energia e sentimentos nesse objetivo.
Ou seja, precisamos ter poderes para sacrificar os sábados e os domingos e ao mesmo tempo construir relações amigáveis com aqueles que estimamos, despendendo TEMPO. Há aí uma contradição. Além disso, o autor deixa claro que essa não é a prioridade das nossas vidas, e sim o trabalho, pois temos que arrumar tempo em meio ao cansaço. Mas não trabalhamos enlouquecidamente hoje em dia somente para chegar a uma situação cômoda e sustentar nosso orgulho e nossa vaidade? Se eu tivesse o privilégio de reescrever este trecho, diria que devemos ser profissionais amadores ou medíocres e amantes profissionais.
O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.
Durante o dia fazemos o que todos fazem? Ora, há algo errado com os nossos dias, então. Nossa vida é realmente plena se gostamos daquilo que fazemos e das relações que constituímos durante o dia. Aí as noites permitem repor as energias, permitem bons sonos, permitem leituras e reflexões, permitem cultivar bons sentimentos e boas esperanças. Se, no entanto, nosso dia-a-dia for pesado, nossas noites também o serão, e estaremos em um ciclo vicioso, cobrando cada vez mais de nós mesmos e sempre correndo atrás do tempo e se escondendo atrás dele para esconder as angústias de nossa vida. Aí é muito simples justificar nossa situação mentindo para nós mesmos que não temos tempo. Então, em lugar de jogar para a noite as responsabilidades para a busca de objetivos, devemos nos dedicar a eles durante o dia, sem ocupar as noites para tal. Quanto mais utilizarmos as noites para reposição de energias, melhores serão nossos dias.
Mesmo que dediquemos as noites para estudar, o ato de estudar também deve ser um anseio natural da alma e um prazer, não uma corrida por notas e diplomas. Não devemos gastar mais tempo e sim potencializar o tempo em que estamos dedicados para determinado objetivo, fazendo o melhor que podemos, visto que hoje em dia sofremos do mal de estar na correria durante o dia todo tentando fazer muitas coisas sem conseguir realizar nenhuma com afinco, dedicação e paz.
Desloquemos agora nossa atenção para o termo "sucesso". Será que o sucesso é levantar-se de nossa cama quentinha às 6 da manhã, enfrentar um trânsito infernal e ficar o dia todo dentro de um ambiente indesejável e cheio de competição, tendo que por vezes fazer coisas que não condizem com nossa moral, fazendo hora extra e puxando o saco do chefe, seguindo uma série de regras? É sucesso, depois de tudo isso, sair ainda para uma corrida desenfreada para os estudos, mais por obrigação do que por desejo, para acumular diplomas que facilitem a competição no mercado de trabalho? É sucesso ser escravo do próprio empreendimento? Temos mesmo que ficar longe do que amamos de verdade, nos alimentando mal e nos estressando, temos que "sacrificar" finais de semana para favorecer a maldita competição de quem chega mais longe ou de quem tem mais? O sucesso está muito ligado à posição social em que nos encontramos, e não ao nosso bem-estar, por isso devemos refletir se o que mais importa para nós é o sucesso ou a felicidade, visto que ambos parecem ainda tão distantes um do outro.
Mas, para obter resultado diferente da maioria, você tem que ser especial. Se fizer igual a todo mundo, obterás os mesmos resultados. Não compare à maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso. Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planejar, enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.
Mas o que é aquilo que todo mundo faz? O que vejo é todo mundo buscando o sucesso e os bens materiais à sua forma, cegos em busca do lugar ao sol. Parece haver uma fórmula que a maioria está buscando: maior sacrifício, uso dos finais de semana e das noites para alcançar o sucesso. O que consiste, então, em ser diferente da maioria? Além disso, se a maioria não é modelo de sucesso, por que temos que fazer, no fim das contas, o que a maioria faz? Contraditório, portanto. Ou será loucura ou preguiça do autor desta postagem? E não são as novelas ou o chope o que dão equilíbrio a um dia-a-dia tão pesado e estressante? Vemos, portanto, que o sucesso e a paranóia são separados por uma linha muito tênue...
A realização de um sonho depende de dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. A ilusão não tira ninguém de onde está. Ilusão é combustível de perdedores.
E agora, o que é ilusão? Se o autor acredita que muitos esperam mágicas para se realizarem e afirma que toda mágica é ilusão, o que será que alcançaremos ao nos dedicarmos arduamente a realizar nossas vaidades? Não será o sucesso também uma grande ilusão? Não estará essa doce ilusão de que um dia seremos pessoas bem sucedidas o que nos faz penar tanto hoje em dia? E quem conhece alguém que trilhou o mesmo caminho e se tornou uma pessoa feliz e bem sucedida em todos os aspectos? Em geral, vemos pessoas com muito dinheiro, mas sem felicidade, com muitas responsabilidades, muitas culpas e sem muito amor em suas vidas. Valeu a pena correr tanto? Não continuam estas correndo ainda para tapar o vazio que deixaram em suas vidas?
E o que podemos considerar como perdedores? São pessoas que não seguem a ilusão do sucesso? Ora, não serão talvez estas que buscaram fazer algo que a maioria não faz e preferiram viver com mais gosto e simplicidade? Por que devemos separar as pessoas entre vencedoras e perdedoras na vida? Quem definiu os parâmetros para as vitórias e para as derrotas, se estamos o tempo todo caindo e levantando? E se nos considerarmos vencedores, é sinal de que tivemos que competir com alguém para isso? Para nosso sucesso, é necessário que outros fracassem e estejam abaixo de nós? Perguntas que deixo tão soltas ao vento como permanecem soltas em minha mente.
Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa.
Esta frase é muito interessante, e descreve muito do que se passa conosco. Mas, afinal, não será ela também um tormento? Ao lermos algo como esse escrito, não nos enchemos de culpa ou remorso por inventar desculpas e boicotes durante o dia-a-dia para fugir do que não queremos? E qual é o problema em não desejar algo de verdade? Será que lá dentro de nosso interior já não há uma voz que nos incentiva a seguir caminho inverso ao tão comentado sucesso? E por termos essa voz dentro de nós, não sentimos raiva de nós mesmos por não agir em determinados momentos e seguir o que nossa voz nos diz ao ouvido?
Essa culpa por não nos dedicar inteiramente para o sucesso é algo que devemos nos desvincilhar caso desejemos a plenitude e a paz. Boa parte daquilo que chamamos de sonho se reduz à desejos de nossa própria vaidade, por vezes egoístas e surgidos tão somente da comparação que fazemos com os outros. Cada passo que damos em busca do sucesso material nos afasta da nossa própria alma e nos torna cada vez mais surdos para a voz que clama no nosso interior, mais bloqueados para as manifestações de carinho, mais duros, intransigentes, intolerantes, mais distantes daquilo que amamos. Por isso mesmo, nunca devemos nos sentir culpados em seguir nosso próprio coração, ainda que isto nos custe o sucesso. É dentro de nós mesmos que vivemos o real sentido de nossas vidas.
Essa postagem baseia-se no texto de Roberto Shinyashiki, de título "O sucesso é construído à noite", publicado em http://shinyashiki.uol.com.br/blog/2010/07/o-sucesso-e-construido-a-noitedurante-o-dia-voce-faz-o-que-todos-fazem/ e acessado em 19 de maio de 2013.
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