Não seria nenhum exagero hoje afirmar que o namoro e o casamento são os maiores fracassos do século. No sentido geral, as relações existentes são insossas e lotadas de regras pré-determinadas. Os casais se atraem por interesses materiais e comuns - atrativos físicos, bens materiais, status social, a famosa "pegada" e outros. A maioria das uniões ocorre unicamente para a satisfação dos desejos sexuais. Logo, por serem constituídas de coisas tão finitas e comuns, as relações possuem tempo de duração limitado, ou então são daquelas que terminam e começam a todo o momento. Afinal, o relacionamento com a outra pessoa existe somente mediante objetivos individualistas e medíocres.
Imagino que as próximas gerações sejam constituídas cada vez mais de solteirões. Está cada vez mais difícil encontrar uma pessoa que realmente esteja disposta a amar de verdade, sem rodeios, sem regras pré-concebidas, sem limites e sem obrigações. Não se encontram mais namoros ou casamentos nascidos de um sentimento mais puro e verdadeiro. A bem da verdade muitos acreditam que é uma obrigação estar com alguém, mesmo que não seja uma pessoa boa. Há necessidades a serem atendidas, principalmente dizendo respeito à reputação. Por consequência, há cada vez mais casais descontentes, que vivem numa rotina de brigas e insatisfação.
Defendo a idéia de que uma relação romântica ideal não acontece por algum motivo. Acontece sem motivo algum, com alguém que você dificilmente saberá explicar por que lhe atrai tanto. O amor é assim em todas as suas formas: ele simplesmente acontece, sem que se possa explicar, apenas ser levado por ele. Portanto, se houver algum motivo que tenha levado ao início de um romance, é difícil acreditar que tenha sido amor.
Como a idéia acima é tão utópica a ponto de quase ninguém segui-la, a grande maioria prefere se manter no senso comum de ficar fazendo diversas tentativas com várias pessoas e se machucando ou perdendo a própria dignidade, ou ainda se escravizando em torno de si mesmo por manter-se ao lado de alguém que não está fazendo bem.
Questiono diante disso tudo qual é o problema de ficar sozinho e de não forçar as coisas até que elas aconteçam? Temos esse péssimo hábito diante de tudo o que diz respeito á vida. O homem se considera inteligente e senhor da razão a tal ponto de querer instituir regras e verdades para tudo, inclusive para os relacionamentos. Tudo seria mais simples se simplesmente acreditássemos no melhor e em Deus, deixássemos de gastar nossas energias acreditando que conseguiremos tudo o que queremos com nossas próprias mãos. Nada é realmente nosso, e nossas vontades nem sempre correspondem àquilo que seria melhor para nós. Infelizmente nos deixamos levar pelos padrões instituídos e temos que conviver com a mediocridade ou assisti-la sem poder fazer nada.
O cenário descrito pode ser desanimador. Mas há algo em que devemos acreditar firmemente: na amizade verdadeira. Ela carrega o verdadeiro sentido do amor e da vida. Surge por acaso, independe de posses, de crenças, de aparências e de qualquer outra coisa que possamos conceber. Perpetua-se quase sem razão, e pode permanecer igual mesmo com a distância e com o tempo. Não exige exclusividade, não traz a preocupação com traição, é livre e não exige compromisso ou regras pré-determinadas. Simplesmente acontece, e nunca saberemos o motivo. Me considero uma pessoa afortunada por, apesar de não ter uma "namorada", possuir alguns amigos e amigas de verdade que completam a minha vida, que torcem pelo meu sucesso, me enchem o saco e me xingam de vez em quando, mas com quem eu sei que posso contar a todo momento, que estão a todo momento dispostos a nos complementar sem exigir nada em troca. A amizade é um bem de grande valor, e nenhuma relação será capaz de superar a grandiosidade que envolve um sentimento verdadeiro entre dois grandes amigos. Eu só seria capaz de estabelecer uma relação romântica com alguém mediante a possibilidade de se tornar o melhor amigo dessa pessoa.
Lamentavelmente o pensamento egoísta da grande maioria prefere afastar a idéia de que uma relação romântica daria certo com um amigo ou amiga, pelo medo de perder o amigo. Concordo com essa idéia, pois rebaixar uma amizade a um namoro é quase um crime, visto que surge a necessidade de encaixar a relação em uma série de regras e comportamentos. Mas ainda creio na evolução de um sentimento de amizade, que possa atingir dimensões tão altas a tal ponto de unir as almas de modo tão belo quanto inexplicável, não haveria palavra para descrever que tipo de relação seria essa. Uma concepção que talvez exista somente na minha cabeça. Por mais que pareça teimosia, não acredito nos romances, somente nos amigos, por ainda conservarem um pouquinho da essência do amor.
O problema não são os romances.. mas as pessoas.
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